Síndrome Plurimetabólica

Síndrome plurimetabólica [1]

1. O que é exatamente esta síndrome?

Chamada também de metabólica, dismetabólica ou síndrome X, é um conjunto de sinais clínicos e/ou laboratoriais, acompanhados ou não de sintomas decorrentes de anormalidades metabólicas.

De acordo com um protocolo apresentado e adotado pelo Programa Nacional de Educação em Colesterol (The National Cholesterol Education Program), dos Estados Unidos, ela está presente quando o indivíduo possui pelo menos três dos seguintes fatores:

– circunferência abdominal acima de 88 cm para mulheres e 102 cm para homens;

– elevação da concentração de triglicérides (acima ou igual a 150mg/dL);

– diminuição dos níveis de HDL, o chamado bom colesterol (menor de 40 para homens e de 50 para mulheres);

– elevação da concentração plasmática de glicose em jejum (acima ou igual a 110 mg/dL);

– elevação da pressão arterial (acima ou igual a 130/85 mmHg).

2. De que forma surge no organismo?

O distúrbio basicamente aparece por uma resistência do próprio corpo ao hormônio insulina. Na origem da síndrome, contudo, estão normalmente os maus hábitos alimentares e a falta de exercícios físicos regulares. “Quando há acúmulo de gordura no abdômen, a insulina, produzida pelo pâncreas, encontra resistência para levar a glicose para dentro das células”, explica Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), da Faculdade de Medicina de Catanduva (SP). Dessa forma, ocorre uma maior produção e liberação do hormônio, que fica circulando pelo corpo.

3. Quais os principais riscos para a saúde?

O pâncreas ressente-se da alta produção de insulina, causando diabetes tipo 2. Além disso, vários órgãos podem ser afetados. No fígado, a resistência a essa substância favorece a dislipidemia, que é o aumento do LDL, o mau colesterol, e a uma diminuição do HDL, o bom. No rim há uma maior absorção de sódio, elevando a pressão arterial. “Já o coração fica mais suscetível a sofrer de anginas leves até infarto agudo”, alerta Roberto Carlos Burini, professor do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), SP. Este é o ponto que preocupa: as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em pacientes com síndrome metabólica. “Ela está relacionada ainda a tumores malignos (câncer de cólon, de mama e de próstata), doenças neurodegenerativas (como o mal de Alzheimer), acidente vascular cerebral, osteoartrite (um desgaste osteoarticular) e, nas mulheres, a alterações de fecundidade, porque se associa à síndrome dos ovários policísticos”, complementa o endocrinologista Wilson Medina, também da Unesp.

4. Existe alguma relação com a obesidade?

Sim, pois a adiposidade é um dos principais fatores para o aparecimento da síndrome. “Quem apresenta Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25 possui o dobro de chance de ter esse problema. E o risco aumenta mais ainda para aquele que chega a um IMC acima de 30”, declara o cirurgião Ricardo Cohen, do Centro de Tratamento da Obesidade do Hospital São Camilo, de São Paulo (SP). Uma pessoa magra com barriga proeminente também deve ficar atenta. “O acúmulo de gordura no abdômen é muito perigoso”, enfatiza a nutricionista Liliana Bricarello, da Universidade Federal de São Paulo (SP)

5. O problema é de origem genética?

Com certeza, a influência genética conta – e muito – na ocorrência de obesidade, de diabetes tipo 2 e de hipertensão arterial. A síndrome, da mesma forma, é associada a múltiplos genes e às relações que surgem quando eles se interagem. Por isso, se existem casos na família, a atenção deve ser redobrada, sim. No entanto, é importante lembrar que os maus hábitos alimentares têm grande parcela de culpa. “Se o paciente tem parentes com problemas metabólicos mas está dentro do peso, segue uma dieta balanceada e pratica exercícios com assiduidade, maior a chance de se manter saudável”, reforça Liliana.

6. O comportamento diário pode influenciar?

Sim, é uma reação em cadeia: a epidemia de obesidade do mundo está associada às características da vida moderna – a substituição dos alimentos “in natura” pelos industrializados, o grande consumo de itens calóricos, a tecnologia que reduz cada vez mais o esforço físico.

Todos esses fatores afetam a resposta do organismo à insulina, determinando a resistência à sua ação. E aí o distúrbio se instaura.

7. Quais os sinais que acusam a síndrome?

Geralmente, os indícios são notados apenas nos exames clínicos feitos pelo médico (que verifica o aumento da circunferência abdominal e a hipertensão) e com os resultados dos testes de laboratório (como o de glicemia ou o lipidograma). “Muitas vezes o indivíduo não percebe as alterações até que surjam complicações, principalmente as cardiovasculares”, alerta Burini. Para Durval Ribas, a anomalia é uma mal silencioso que precisa ser detectado o quanto antes.

8. Quem está mais sujeito à doença?

Os homens, que têm predisposição a ter barriga, são as maiores vítimas. Ela aparece também em mulheres, quando se relaciona ao IMC alto. Nos Estados Unidos, cerca de 47 milhões de norte-americanos enquadram-se nos critérios de diagnóstico da síndrome metabólica, incluindo nesse dado de 10 a 15 milhões de diabéticos tipo 2. Vale ressaltar que, apesar de ser mais comum em adultos, acomete também crianças e adolescentes. De acordo com uma pesquisa americana, calcula-se que 910 mil jovens, entre 12 e 19 anos, sejam portadores da doença. Com maior freqüência os médicos encontram pacientes mirins com glicemia, pressão e colesterol alterados, propiciando que o mal se inicie já na infância. E, como a resistência à insulina não surge do dia para a noite, são necessários atenção especial com a alimentação e o estímulo à prática de exercício físico desde cedo.

9. Como deve ser feito o controle do distúrbio?

A forma mais eficiente de combate é a prevenção. Mesmo quando as alterações ou complicações já apareceram, a mudança de estilo de vida torna-se fundamental. “Estudos canadenses e americanos comprovaram que, ao se controlar a enfermidade e outras conseqüências da obesidade, se diminui a mortalidade dos pacientes significativamente, num patamar que chega a 89%, considerado um período de 10 anos”, indica Cohen. No entanto, muitas vezes existe a necessidade do uso de medicamentos e, em casos extremos, a realização de cirurgia bariátrica (de redução do estômago) ou cardíaca, quando o coração já foi afetado. Ao eliminar o excesso de peso, extermina-se a síndrome metabólica.

A prevenção é tudo

Antes de tudo deve-se cuidar da obesidade, mudando hábitos e perdendo os quilos extras

“A redução de peso favorece a quebra na resistência insulínica”, reforça o presidente da Abran, Durval Ribas Filho. Por isso, é fundamental:

– Diminuir a ingestão de açúcares simples.

– Evitar o excesso de sal e reduzir o consumo de frituras e de gorduras saturadas e trans.

– Ingerir um cardápio composto por 30% de proteínas.

– Apostar na atividade física, após uma avaliação médica. “Pratique exercícios periódicos, contínuos, supervisionados e com aumento gradativo de cargas”, recomenda Burini. Deve-se levar sempre em consideração fatores como idade, peso, capacidade cardiorrespiratória e presença de lesões ortopédicas.

– Ir ao médico periodicamente e se submeter a baterias de exames laboratoriais.

– Seguir uma alimentação balanceada, que traga prazer e satisfação, porém combatendo os riscos inerentes à obesidade e à síndrome metabólica.

– Evitar modismos e nunca tomar medicamentos sem prescrição médica. Caso contrário, as conseqüências poderão ser graves.

– Comer mais frutas, verduras e alimentos ricos em nutrientes com efeito antioxidante (como tomate, abóbora, cenoura, mamão ou espinafre) e com redutor de colesterol (soja ou peixes).

[1]Texto de Solange Bassaneze

http://dietaja.uol.com.br/Edicoes/104/artigo7859-1.asp]

4 comentários

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    • M. Fátima Garbuio em 21 de junho de 2010 às 17:54
    • Responder

    Prezado Dr. Maciel

    numa insistência minha com o pediatra de minha filha pedi que fossem feitos alguns exames laboratorias e no resultado veio: Glicemia de jejum 107 mg/dl em 2009 era de 99 mg/dl e o Colesterol HDL esta em 40 mg/dl.
    Ela tem 11 anos, 1.61 m e esta com 51 Kg e possui digamos uma saliencia na barriguinha…..
    Já seria um indicio desta síndrome??
    grata
    M. Fátima

    somos suas pacientes..

    1. Comumente, a Síndrome Plurimetabólica é avaliada somente em adultos, porque de acordo com o protocolo apresentado e adotado pelo Programa Nacional de Educação em Colesterol (The National Cholesterol Education Program), dos Estados Unidos, ela está presente quando o indivíduo possui pelo menos três dos seguintes fatores:
      – circunferência abdominal acima de 88 cm para mulheres e 102 cm para homens;
      – elevação da concentração de triglicérides (acima ou igual a 150mg/dL);
      – diminuição dos níveis de HDL, o chamado bom colesterol (menor de 40 para homens e de 50 para mulheres);
      – elevação da concentração plasmática de glicose em jejum (acima ou igual a 110 mg/dL);
      – elevação da pressão arterial (acima ou igual a 130/85 mmHg).
      Além disso, deve-se lembrar que a obesidade é um dos principais fatores para o aparecimento da síndrome. “Quem apresenta Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25 possui o dobro de chance de ter esse problema. E o risco aumenta mais ainda para aquele que chega a um IMC acima de 30”. Pelas medidas de sua filha, o Índice de Massa Corporal (IMC) é de 19,7, o que a classifica como “Peso Normal Magro: de 18,5 a 20,6”.
      De qualquer forma, vale a pena investigar melhor a razão para estes valores de sangue; as causas mais comuns são: sedentarismo e excesso de carboidratos. Abs.

    • Mahra Bobsin em 6 de novembro de 2012 às 15:02
    • Responder

    Dr Paulo Maciel,

    Em 2009 descobri que apresento três fatores que caracterizam a síndrome metabólica. Pressão arterial elevada (16×10), circuferência abdominal em 90cm, tx alta triglicerideo (ja chegou em 1300). Nos últimos dois anos engordei 15 kg. Estou procurando manter os níveis de trigleciridios e pressao arterial com o médico cardiologista e a medicação tem surtido algum efeito, pois o trigliceridio que era 1200 baixou para 600 e a pressao arterial tem se mantido em 13×9. Porém, por último foi identificada uma “bola de gordura” no fígado na última ecografia e também tenho 3 miomas no útero que estou acompanhando com a ginecologista. A matéria do seu site foi a mais completa que vi sobre o assunto. E eu gostaria muito de encontrar um médico que dissesse com razoável grau de certeza qual é a CAUSA de todos estes sintomas. É fato que estou com sobrepeso atualmente, mas nunca fui obesa. Então acho que preciso fazer investigar e saber O QUE ESTÁ CAUSANDO TODA ESSA DISFUNÇÃO. Como resido em Porto Alegre, não tenho como ir ao seu consultório. Mas, nesse sentido, gostaria de ter a sua orientação do que perguntar aos profissionais e como proceder para que os profissionais que estão me atendendo possam me ajudar neste problema. De fato, nenhum até o momento, me disse PORQUE tenho trigleceridios altos e O QUE acontece com meu fígado. Obrigada. Mahra Bobsin

    1. Mahra:

      A primeira questão a ser compreendida é que os triglicerídeos é que eles são a forma de transporte de gordura e carboidratos mais comum em nosso corpo, sendo usados para fornecer energia para o organismo. Quando a quantidade de triglicerídeos está elevada, eles são armazenados nos tecidos adiposos (tecidos gordurosos) e no fígado para o caso de serem necessários no futuro. Os triglicerídeos estão presentes em vários alimentos comuns da nossa dieta, mas a maior parte costuma ser produzida pelo nosso fígado. Quando comemos carboidratos em excesso (doces, massas, pães, etc.), o fígado pega esses açúcares a mais e os transforma em triglicerídeos, para que eles possam ser estocados nos tecidos adiposos, servindo como reserva energética. Os triglicerídeos viajam pela corrente sanguínea acoplados a uma proteína chamada VLDL, raramente valorizada, que é uma lipoproteína semelhante ao HDL e LDL que transportam o colesterol pelo sangue.

      Os níveis de triglicerídeos podem se elevar por vários motivos. Algumas pessoas apresentam alterações genéticas que predispõem à chamada “Hipertrigliceridemia familiar”, que são transmitidas de forma autossômica dominante. Isto significa que se você conseguir uma cópia alterada do gene de apenas um dos pais, já terá a doença. Estas alterações genéticas fazem com que os pacientes produzam triglicerídeos em excesso, independentemente da sua dieta; nestes caso é possível que o paciente apresente níveis graves de triglicerídeos, às vezes acima dos 1000 mg/dL, como é o seu caso.
      A Hipertrigliceridemia familiar não costuma se manifestar até a puberdade ou início da idade adulta. A hiperglicemia, obesidade e níveis elevados de insulina também são muitas vezes presentes e pode causar níveis de triglicérides ainda mais elevados. A Hipertrigliceridemia familiar ocorre em cerca de 1 em 500 pessoas nos Estados Unidos. Os fatores de risco incluem uma história familiar da doença ou doença cardíaca antes da idade de 50 anos.

      Outras pessoas desenvolvem triglicerídeos altos secundariamente a uma dieta hipercalórica ou à presença de determinadas doenças. Entre as condições que mais frequentemente provocam hipertrigliceridemia estão: Obesidade; Diabetes mellitus; Hipotireoidismo; Insuficiência renal crônica; Síndrome nefrótica; Dieta hipercalórica; Consumo excessivo de álcool e Gravidez.
      O uso regular de alguns medicamentos também pode provocar um aumento dos triglicerídeos: Tamoxifeno; Corticoides; Betabloqueadores (propranolol, atenolol, carvedilol, bisoprolol, metoprolol); Diuréticos; Anticoncepcionais; Ciclosporina; Antirretrovirais e Isotretinoína (Roacutan). O aumento dos triglicerídeos pode ou não vir acompanhado de alterações no colesterol. As duas situações mais comuns são triglicerídeos e LDL (colesterol ruim) elevados ou triglicerídeos elevados e HDL (colesterol bom) baixo. A elevação isolada dos triglicérides, sem alterações do colesterol não é muito comum.

      O que está acontecendo com o seu fígado é o que se chama de “Esteatose Hepática”. A Esteatose Hepática é um acúmulo de gordura nas células do fígado, também chamada de “Infiltração gordurosa do fígado” ou “Doença gordurosa do fígado”. Ela pode ser dividida em Doença gordurosa alcoólica do fígado (quando há abuso de bebida alcoólica) ou Doença gordurosa não alcoólica do fígado, quando não existe história de ingestão de álcool significativa.
      A Esteatose pode ter várias causas: Abuso de álcool; Hepatites virais; Diabetes; Sobrepeso ou Obesidade; Alterações dos lípides, como Colesterol ou Triglicérides elevados; Drogas, como os corticoides e secundário a algumas cirurgias para obesidade. Mais ou menos 1 de cada 5 pessoas com sobrepeso desenvolvem Esteatose hepática não alcoólica.

      Na hipertrigliceridemia, deve-se reduzir a ingestão de açúcar, bebidas alcoólicas e carboidratos complexos (arroz, massas em geral, batata, doces). Na dislipidemia mista (aumento de colesterol e triglicérides), deve-se restringir gorduras saturadas, colesterol e carboidratos. Em ambos os casos, consumir maior quantidade de frutas, legumes e verduras, que além de conterem vitaminas e fibras são ricos em antioxidantes naturais.
      Uma dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos é um importante fator de risco para hipertrigliceridemia. Pessoas com triglicerídeos elevado devem evitar o consumo regular de: Refrigerantes ou qualquer outra bebida rica em açúcar. Bebidas alcoólicas. Doces. Chocolate. Pão. Biscoitos. Massas. Pizzas. Batata. Sorvetes. Frozen yogurt. Tortas. Bolos. Leite integral. Frituras. Queijos gordurosos.
      Quando apenas as modificações no estilo de vida não são suficientes para controlar a dislipidemia, o segundo passo é a terapia farmacológica.

      Abs

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