Cuidado com a soja e as isoflavonas! [1]
IMJL – Por que o Sr. está alertando as mulheres para que evitem muito consumo de soja, quando tudo o que se lê e ouve atualmente é no sentido de estimular o máximo possível o consumo dessa planta e seus produtos [inclusive isoflavonas], para os sintomas da menopausa e para evitar o câncer da mama?
Dr. Zava – Não tenho nada contra o consumo esporádico de produtos da soja. O que me preocupa é a maneira alucinada com com que algumas pessoas estão passando a consumir esses alimentos e/ou medicamentos feitos a partir da soja. Nas minhas pesquisas, descobri um grande número de toxinas (antinutrientes) na soja. O que eu quero dizer é que existem substâncias químicas produzidas naturalmente na soja que, se não forem removidas (deixar a soja de molho antes de cozinhar, fazer um cozimento lento e permitir fermentação), podem causar sérios problemas de saúde, se ingeridos em demasia.
IMJL – E sobre alimentos à base de soja para tratar sintomas da menopausa?
Dr. Zava – Alimentos à base de soja podem ser importantes como parte de uma nutrição equilibrada e estilo de vida adequado para os sintomas da menopausa, porém eles não representam uma solução por si mesmos. Mesmo o consumo em altas doses de derivados de soja repletos de isoflavonas pode suprimir apenas minimamente os sintomas da menopausa, para a maioria das mulheres.
O recente estudo da Bowman-Gray School of Medicine examinou o poder da proteína de derivados de soja em aliviar os sintomas da menopausa. O lado positivo do estudo foi que a intensidade das ondas de calor foi reduzida. Porém, não houve diferença estatística quanto ao número de ondas de calor que essas mulheres apresentavam.
Com terapia de reposição de progesterona e/ou estrogênio, a mulher muitas vezes obtém um alívio completo dos sintomas da menopausa. Como os hormônios naturais são seguros e eficazes, quando usados de forma adequada, eu acho que forçar o uso da soja é uma abordagem equivocada, além de comprometer seriamente a saúde e a qualidade de vida de milhões de mulheres.
IMJL – Que efeitos os antinutrientes da soja têm sobre o organismo?
Dr. Zava – Existem uns 5 tipos de substâncias na soja que podem ser tóxicas para os humanos, caso não sejam removidas através de processamento especial. Os asiáticos, após milhares de anos, aprenderam a remover as toxinas e a tirar proveito dos ricos nutrientes da soja. As principais toxinas da soja são alergênicos, fitatos, inibidores de protease, genisteína, e groitogênicos (causadores do bócio, ou papo).
Os alergênicos podem causar reações alérgicas muito pronunciadas em algumas pessoas, que provavelmente inclui de 10 a 20 por cento da população do mundo ocidental.
Já os fitatos podem ser um problema por se ligarem muito fortemente a minerais essenciais, especialmente o zinco, impedindo que esses minerais sejam absorvidos no organismo. Alguns estudos têm indicado que um consumo excessivo de fitatos em crianças pode causar raquitismo, devido à sua ação zinco-depletiva. Os fitatos deixam de ser um problema se proteína animal for incluída na dieta. O zinco é necessário para mais de 50 reações enzimáticas no organismo, inclusive muitas daquelas necessárias para as funções cerebrais.
O terceiro antinutriente da soja é um fitoquímico que inibe as enzimas que digerem as proteínas e as transformam em aminoácidos. São os inibidores Bowman-Birk, ou inibidores de protease.
IMJL – Inibidores de protease não é o que os pacientes com AIDS atualmente usam?
Dr. Zava – Sim. E aprendemos com eles, a duras penas, que os inibidores de protease também inibem enzimas pancreáticas. A última coisa no mundo que alguém precisa quando é portador de uma doença debilitante é algo que não lhe deixe digerir os alimentos. Mesmo uma pessoa saudável não iria querer que a sua digestão fosse comprometida.
IMJL – E se tiver predominância estrogênica, ou estiver tomando anticoncepcionais, você já tem um problema com os altos níveis de cobre e os baixos níveis de zinco, e isso só vai piorar a situação. A Dra. Ellen Grant, pesquisadora hormonal da Inglaterra, acredita que é esse desequilíbrio que causa mudanças de humor e irritação na TPM, bem como em mulheres na menopausa.
Dr. Zava – Exatamente. Mas, como já disse, se você ingerir proteína animal com legumes, os fitatos deixam de ser um problema. A genisteína [das isoflavonas] é a próxima na lista dos antinutrientes. A sua estrutura é similar à do estradiol, e ela se encaixa muito bem nos receptores de estrogênio das células, acionando esses receptores da mesma forma que o estradiol. Porém, a genisteína desempenha muitas outras atividades no corpo humano. Ela inibe um grande número de diferentes enzimas, algumas das quais responsáveis pela síntese do estrogênio, incluindo as que convertem androgênios em estrona (aromatase) e estrona em estradiol (17-HSD). A genisteína é também uma potente inibidora da tirosina cinase – enzima que transporta moléculas de fosfato de alta energia para o interior das células, com o objetivo de acionar processos celulares como a proliferação de células. As células cancerosas tendem a ativar a tirosina cinase, portanto a genisteína tem demonstrado ser bastante útil no bloqueio da proliferação de células. No entanto, isso pode ser uma faca de dois gumes, pois as células normais também necessitam de um pouco de atividade das tirosinas cinases. Isso inclui folículos capilares, neurônios da memória no cérebro, etc.
Outra coisa que um alto nível de genisteína faz é bloquear o transporte de glicose para as células, ao inibir a enzima chamada GLUT-1. Ela é um dos principais transportadores de glicose que ficam no lado de fora das células cerebrais, glóbulos vermelhos do sangue, e em muitos outros locais, e que levam glicose para as células. Como o cérebro é muito dependente da glicose como fonte de energia, preocupa-me que muita genisteína por um período prolongado de tempo possa ser tóxica para o cérebro.
Eu não acho que a soja, na forma em que tem sido consumida pelos asiáticos por milhares de anos, possa representar algum problema em relação às funções cerebrais. Na verdade, ela pode até ser benéfica. O que me preocupa, porém, é que nós não possuímos qualquer informação sobre que tipo de impacto de longo prazo quantidades excessivas de genisteína (em produtos processados de soja, em pó, ou na forma de pílulas) terão sobre as funções cerebrais, pois um nível muito elevado de genisteína inibe pelo menos três das vias metabólicas necessárias para manter normais as funções cerebrais.
O quinto antinutriente da soja é um goitrogênico. É uma substância que se “gruda” ao iodo, evitando a sua absorção pelo organismo a partir do trato gastrointestinal. O iodo é necessário para a produção do hormônio da tireóide.
IMJL – Como devemos considerar os efeitos protetores da genisteína [isoflavonas] contra o câncer da mama, conforme lemos e ouvimos tanto na mídia popular?
Dr. Zava – Surpreendentemente, na verdade existe muito pouca evidência na literatura, tanto em estudos epidemiológicos quanto em estudos experimentais com animais, comprovando que a soja proteja contra o câncer da mama. Isso não quer dizer que a soja não tenha outras propriedades protetoras, como no caso do coração, mas apenas que ela não parece proteger o seio contra o câncer. Muitos supõem que a genisteína, que está presente em níveis muito elevados na soja, age da mesma forma que o tamoxifen e protege contra o câncer da mama. O que eu descobri nas minhas pesquisas é que a genisteína funciona como um pró-estrógeno e não como um antiestrógeno, como o tamoxifen. A sugestão da imprensa popular de que a genisteína, em concentrações encontradas nos alimentos, inibe o desenvolvimento do câncer da mama está simplesmente errada e não tem base em fato científico. Diversos resumos de estudos apresentados na Segunda Conferência Sobre Soja, ocorrida em Bruxelas – Bélgica, relataram que proteínas de derivados de soja aumentaram a proliferação de células normais dos seios de humanos saudáveis. Isso é inteiramente coerente com o que eu descobri trabalhando com células cancerosas de seios humanos em tubos de ensaio, usando níveis de genisteína normalmente encontrados no sangue de indivíduos que consumiam muitos alimentos de soja. Outros pesquisadores também encontraram resultados semelhantes, ou seja, de que a genisteína é um pró-estrógeno em células cancerosas do seio humano. Portanto, pela falta de provas de que alimentos de soja protegem contra o câncer da mama, me surpreende que haja tanta ênfase nesse sentido.
IMJL –Portanto, trata-se de um alimento que é remédio, se usado com moderação, sendo um veneno em potencial se usado em excesso. Que recomendações o senhor daria, tanto para mulheres quanto para homens, sobre o consumo de soja?
Dr. Zava – Se você não for alérgico a alimentos de soja, consuma de preferência os produtos fermentados, como missô ou tempê, pois muitos dos antinutrientes já foram reduzidos nessa forma. Caso você coma soja na forma de tofu, leite de soja ou em pó, por exemplo, coma-os em conjunto com plantas marinhas ricas em minerais, como kombu e nori, além de proteína animal, de preferência peixe, para contrabalançar os conteúdos mais elevados de antinutrientes, tais como fitatos e inibidores de enzimas digestivas.
IMJL – Agradecemos pelas importantes informações. O senhor teria lago mais a acrescentar aos nosso leitores?
Dr. Zava – Sim. Como parte da minha pesquisa, estou à procura de mulheres que tenham sido diagnosticadas com câncer de mama enquanto usavam progesterona. Peço que essas mulheres, se houver, entrem em contato comigo por carta, aos cuidados da John Lee Medical Letter – P. O. Box 3527, Santa Barbara – California 93130-3527, USA, ou via e-mail para <info@salivatest.com>.
[1] Tradução e adaptação de entrevista com o Dr. David Zava, renomado pesquisador do câncer da mama e dos hormônios femininos, concedida ao Informativo Médico do Dr. John Lee (IMJL).
2 comentários
Adorei a reportagem. Gostaria de saber se o uso contante da soja em adolescente e mulheres jovens pode causar esterilidade.
Obrigada,
Neide
Autor
Esterilidade não, mas alterações das taxas hormonais sim. A diminuição da fertilidade está ligada ao meio-ambiente mais com produtos agrícolas e industriais. Abs