A água Alcalina mitos e verdades

É possível alcalinizar o sangue com dieta ou água alcalinas?

É possível evitar ou curar o sangue com dieta ou água alcalinas?

É a acidez que causa o câncer, ou é o câncer que produz sua própria acidez?

Como estes assuntos são importantes e estão cheios de mitos, enganos e mentiras, vou dividi-los em 3 partes, cada uma delas para cada uma das perguntas acima!

A primeira questão é se é possível alcalinizar o sangue com dietas ou águas alcalinas. Da mesma forma, vamos ver também se é possível acidificar o sangue com dietas ou águas ácidas.

Já vou adiantar que a resposta é NÃO! E se você quiser saber a razão disso, continue lendo; se não, pode parar e continuar acreditando como antes…

Eu vou usar alguns textos e gráficos para a resposta ficar mais didática para quem é leigo, e em especial vou usar alguns trechos de uma conversa da Triboforte que se encontra na internet, entre Rodrigo Polesso e o Dr. Souto.1

Primeiramente, vamos explicar o que é o tal pH:

Em química, pH é uma escala numérica adimensional utilizada para especificar a acidez ou basicidade de uma solução aquosa. A rigor, a escala do pH não é decimal, mas sim o logaritmo na base dez da atividade de íons hidrogênio em mol por litro multiplicado por -1.

As soluções com valores de pH menor do que 7 são ácidas e as soluções com valores maior do que 7 são básicas. Veja um gráfico abaixo mostrando substâncias e alimentos com seus respectivos pH:

Agora uma informação extremamente importante: A água pura apresenta pH neutro, possuindo um valor de pH igual a 7 em 25 °C, não sendo ácida nem básica. Segundo o Dr. Souto, “o pH da água é sempre 7 – o pH da água é sete, neutro”. Não existe água alcalina! Não existe água ácida! A água será alcalina se ela for uma solução fraca de sais alcalinos. Por exemplo, se eu pegar magnésio e misturar na água, eu não terei água alcalina, vou ter uma “solução diluída alcalina de magnésio”. Se eu botar enxofre na água, não terei uma água ácida, terei uma “solução ácida diluída de enxofre”, de ácido sulfúrico e etc. Então, a quantidade desses sais que está diluída na água para alcalinizar o pH dela é uma quantidade muito pequena. É uma quantidade medida em miligramas ou microgramas. Perto das quantidades que consumimos na comida, é irrelevante.

A segunda informação extremamente importante é a de que o pH do sangue é muito estável. Ele praticamente não muda com o que a gente come ou deixe de comer! Mas isso acontece por que os pulmões e os rins são poderosos reguladores de pH do sangue. Então, se existe um pouco mais de ácido sendo formado, quem bota esse ácido para fora são os rins. Se existe um excesso de sais alcalinos em circulação, quem bota isso para fora é o rim. Então, é o pH da urina que varia muito dependendo daquilo que nós comemos, e não o sangue!

Todos os líquidos corporais: no sangue, na linfa, no líquido crânio-sacral ou nos líquidos intracelulares e extracelulares, são levemente alcalinos. Do ponto de vista metabólico, essa estabilização levemente alcalina dos líquidos corporais, que gera um pH entre 7,36 a 7,42, é a condição ideal para todos os processos orgânicos acontecerem da forma mais equilibrada e harmônica. Por isso, favorece a saúde, sua preservação, a prevenção de doenças, além de ajudar no resgate da saúde de organismos desmineralizados e desvitalizados. O pH do sangue é 7,40, levemente alcalino:

Enzimas percorrem todo o nosso corpo, mas funcionam apenas numa estreita faixa de pH. Desvios de apenas 0,2 na escala de pH, para cima ou para baixo, podem causar coma ou até serem fatais. Talvez uma das habilidades mais notáveis do sangue seja a de manter praticamente constante o pH apesar de ácidos e bases, de um modo ou de outro, surgirem na corrente sanguínea. Isto é possível pela chamada “Regulação do Equilíbrio Ácido-Básico”, que é a regulação do íon Hidrogênio nos líquidos corporais2:

Observe que o gráfico mostra que se o pH do sangue subir ou descer muito, ocorre a morte celular, evidenciando a impossibilidade de uma pessoa conseguir viver com o pH ácido!

O desequilíbrio acidobásico é atribuído a distúrbios ou do sistema respiratório (PaCO2), ou metabólico. Na acidez existe uma grande quantidade de íons H+ livres. Já na base o que aumenta são os íons hidroxila (OH).

Quimicamente, ácidos e bases tendem a se neutralizar, formando água: H+ + OH => H2O. Combinações perfeitamente equilibradas criam água com pH neutro (7.0)

Porque o organismo possui esta regulação do pH através dos pulmões e dos rins? Porque o metabolismo celular gera ácidos e bases, influenciando no pH dos fluidos corporais e gerando alterações no pH do meio orgânico, modificando a estrutura das proteínas.

Se o pH cai abaixo de 7,20, resulta uma condição conhecida como Acidose. Se o pH se eleva acima de 7,60, tem-se a condição oposta: a Alcalose. Qualquer uma das duas afeta seriamente a química do corpo humano. A disfunção do Hidrogênio causa uma série de alterações no organismo, sendo que:

A Acidose deprime a atividade mental e pode levar ao coma e à morte (p. ex. por causa de diarreias graves e diabetes mellitus descompensada); o coma acontece com o pH de 6.9.

A Alcalose provoca hiperexcitabilidade do sistema nervoso, causando contrações tetânicas, convulsões e morte, que acontece a partir do pH 7.8.

Os sistema de regulação do pH corporal são feitos a partir de 3 mecanismos2:

  1. Tampões químicos (tamponamento químico dos fluidos corporais).
  2. Regulação renal (Ajuste respiratório da concentração sanguínea de dióxido de carbono – CO2).
  3. Regulação respiratória (Excreção de íons Hidrogênio ou Bicarbonato pelos rins).

Os tampões químicos são substâncias químicas que podem combinar com os ácidos e bases para não modificar significativamente o pH. São 4 os sistemas de tamponamento principais:

  1. Sistema tampão ácido carbônico – bicarbonato (45% da capacidade tampão total);
  2. Sistema tampão de fosfato (glóbulos vermelhos, células tubulares renais);
  3. Sistema tampão de proteínas (células dos tecidos);
  4. Sistema tampão de hemoglobina dos glóbulos vermelhos.

O tampão Bicarbonato é o principal tampão plasmático e é produzido a partir da hidratação do CO2: a produção do ácido carbônico é a maior fonte do H+ do organismo: CO2 + H2O => H2CO3.

Tamponamento pela Hemoglobina: Parte na forma de íons proteinato (Hb-) e parte na forma de ácido fraco (HHb). Adição: H+ + Hb => HHb.

Tampão de Fostato e Proteína: Importante para a regulação intracelular já que sua concentração é maio que o Bicarbonato. As proteínas ligam os íons Hidrogênio de forma semelhante à hemoglobina. O Fosfato age de forma semelhante ao bicarbonato.

A regulação respiratória do Hidrogênio é muito importante e de efeito extremamente rápido. O gás carbônico está sendo continuamente produzido por todas as células do corpo, como um dos produtos finais do metabolismo. Esse gás se combina com água para formar ácido carbônico: CO2 + H2O => H2CO3.

Uma das funções da respiração é eliminar o gás carbônico para a atmosfera, sendo que falhas neste mecanismo aumentem a concentração do CO2 no sangue. A diminuição da respiração aumenta o ácido carbônico, aumentando o H+ e as paradas respiratórias podem diminuir o valor do pH para 7.1.

A regulação renal de compensação do equilíbrio ácido-básico é o mais lento e demorado. Quando o pH do sangue se altera, os rins eliminam urina ácida ou alcalina, conforme as necessidades, contribuindo para regular a concentração de íons Hidrogênio do sangue e demais líquidos orgânicos.

Os três principais mecanismos funcionais do sistema renal são a Filtração glomerular, a Reabsorção tubular e a Secreção tubular.

Através do mecanismo da secreção tubular, os rins transformam o dióxido de carbono em ácido carbônico ionizado. O íon Hidrogênio assim é eliminado para a urina em troca por sódio ou potássio que se combinam ao íon bicarbonato, retornando ao líquido extracelular, para alcançar a corrente sanguínea.

Quando há bicarbonato em excesso no sangue, os rins eliminam o íon Bicarbonato em conjunto com o íon Hidrogênio, o que torna a urina alcalina e contribui para a regulação das bases existentes.

Os rins eliminam material não volátil que os pulmões não têm capacidade de eliminar. A eliminação renal é mais lenta, tornando-se efetiva após algumas horas e demora alguns dias para compensar as alterações existentes. Os rins têm a capacidade de reabsorver o sódio (Na+) e o potássio (K+) filtrados para a urina, eliminando o íon Hidrogênio (H+) em seu lugar; o sódio reabsorvido pode ser usado para produzir mais Bicarbonato e reconstituir a reserva de bases do organismo.

Mecanismos pulmonar e renal de regulação corporal do pH:

Toda esta longa explicação foi colocada aqui apenas para mostrar ao leitor que existem estudos profundos sobre o tema da regulação do pH orgânico, assim como mecanismos perfeitamente eficazes para equilibrar o pH de nosso corpo. Qualquer teoria que contradiga tudo isso ou é má fé (no caso das pessoas que sabem que isto é falso mas mantém a mentira para ganharem alguma coisa com isso como fama, dinheiro e poder), ou é ignorância (no caso dos leigos que leram e acreditaram na mentira contada pelos primeiros)!

Este mecanismo renal de regulação do pH é demonstrado no pH do exame comum de urina, cujo padrão de normalidade vai desde 4.6 até 8.0, dependendo dos valores laboratoriais.

A urina é naturalmente ácida, já que o rim é o principal meio de eliminação dos ácidos do organismo. Enquanto o pH do sangue costuma estar em torno de 7,4, o pH da urina varia entre 5,5 e 7,0, ou seja, bem mais ácida.

Valores de pH maiores ou igual 7 podem indicar a presença de bactérias que alcalinizam a urina. Outros fatores que podem deixar a urina mais alcalina são uma dieta pobre em proteína animal, dieta rica em frutas cítricas ou derivados de leite, e uso de medicamentos como acetazolamida, citrato de potássio ou bicarbonato de sódio. Ter tido vômitos horas antes do exame também pode ser uma causa de urina mais alcalina. Em casos mais raros, algumas doenças dos túbulos renais também podem deixar a urina com pH acima de 7,0.

Valores menores que 5,5 podem indicar acidose no sangue ou doença nos túbulos renais. Uma dieta com elevada carga de proteína animal também pode causar uma urina mais ácida. Outras situações que aumentam a acidez da urina incluem episódios de diarreia ou uso de diurético como hidroclorotiazida ou clortalidona.

O valor mais comum é um pH por volta de 5,5-6,5, porém, mesmo valores acima ou abaixo dos descritos podem não necessariamente indicar alguma doença. Este resultado deve ser interpretado pelo seu médico.

O Dr. Souto explica ainda no site citado um assunto importante em relação ao pH da água e os filtros:

“Embora já tenhamos explicado que a comida não mude o pH do sangue (mas que pode alterar o pH da urina), nós temos que pensar que a quantidade de cálcio, magnésio, fósforo e etc., que tem na comida são ordens de magnitude maior do que a quantidade que tem na água – seja ela alcalina ou ácida. A capacidade que uma solução extremamente diluída de magnésio ou cálcio, que é erroneamente chamada de água alcalina vai ter de alterar qualquer coisa no sangue ou na urina é menor do que quanto a comida é capaz de influenciar nesses parâmetros. Então, o que o Rodrigo falou está absolutamente correto. Um bom filtro pode ser bom para tirar o gosto da água, para tirar impurezas. Filtrar significa isso, remover coisas, e não acrescentar.”

Afinal, então como os filtros oferecem a tão famosa “água alcalina”?

Um dos sites de venda deste tipo de filtro explica com detalhes (eu vou ocultar a fonte, para evitar dissabores e ataques jurídicos desnecessários): “Existem duas maneiras de tornar a água alcalina: o primeiro, por um processo eletrolítico (eletrólise), e o segundo por combinação de minerais. O filtro de água alcalina tem um sistema de tratamento que eleva o pH da água para acima de 8,0 por possuir esferas que liberam o magnésio e produzem grande carga de elétrons.” Como é o filtro que aumenta o pH da água através da liberação do magnésio do filtro, o mineral vai esgotando, sendo preciso repor, conforme o fabricante: “A recomendação é que a troca do refil seja feita de 6 a 8 meses em média. Para facilitar a manutenção, você pode ir medindo o pH de mês em mês, verificando se é mesmo necessário trocar. A substituição depende da quantidade de água utilizada no filtro.”

Finalmente, para resumir tudo isso, podemos concluir que NÃO IMPORTA QUANTA ÁGUA ALCALINA VOCÊ BEBA, NEM QUANTA DIETA ALCALINA VOCÊ CONSUMA, O pH DO SEU SANGUE OU O pH DOS SEUS LÍQUIDOS EXTRACELULARES NÃO VÃO FICAR ALCALINOS! A ÚNICA COISA QUE VAI FICAR ALCALINA É A SUA URINA!

E aquela história que o limão alcaliniza o organismo?

A primeira questão aqui é que o pH do estômago é mais ácido quanto o do limão! O suco gástrico é formado basicamente por água, ácido clorídrico e enzimas digestivas e seu pH varia entre 1,5 e 2, mas em indivíduos com gastrite ele fica ainda mais ácido. E o sumo do limão costuma ter um valor de pH próximo de 2,0 (a 25 °C), o que é significativamente ácido! Então, sendo o limão uma fruta ácida, e quase tão ácido quanto o seu estômago, de que modo ele seria capaz de alcalinizar o sangue?

Afinal de contas, porque o estômago tem um pH tão ácido? Vejamos:

“O suco gástrico, produzido no estômago, é um líquido claro que atua sobre as proteínas, transformando-as em polipeptídios, para que depois, no intestino delgado, esses polipeptídios sejam transformados em aminoácidos e sejam absorvidos.

O suco gástrico contém água, enzimas (tais como o pepsinogênio que, em contato com o ácido clorídrico, é ativado como pepsina e tripsina), sais inorgânicos, ácido clorídrico e uma quantidade mínima de ácido láctico. A sua função é atuar sobre o quimo, proporcionando a digestão gástrica dos alimentos, principalmente das proteínas.

O HCl presente no suco ajuda a destruir as bactérias presentes nos alimentos. Proporciona ainda o meio ácido ideal para a atuação das enzimas do suco, isto porque o seu pH é o 2,5. O estômago produz cerca de três litros de suco gástrico por dia.”6

Um certo médico muito famoso aqui no Brasil e que diz muitas coisas que todo mundo acredita, disse certa vez em um vídeo:

O pH do sangue é 7.35 a 7.45. Veja qual é o pH da água que você toma; a maioria é menos de 6. Então, quando eu tomo uma água que tem o pH abaixo do pH sanguíneo, eu vou ter que por o meu corpo para trabalhar, só para equilibrar o pH. Para você ter uma ideia, um refrigerante tem um pH de 2.5. Uma criança que toma um copo de refrigerante, ela tem que tomar 32 copos de água boa, só para anular o prejuízo! Para cada copo de refrigerante que o seu filho toma, ele deveria tomar 32 copos de água da boa, só olha o estrago. Aí ele não vai bem na escola, ele fica doente, aí ele engorda… porque você está deixando ele tomar veneno.”

As duas informações que destaquei em azul, são verdadeiras: Ele confirma o pH fixo do sangue entre 7.35 e 7.45 e confirma que o nosso corpo “trabalha para equilibrar o pH do sangue”. A verdade médica termina aqui! 

Já a frase “Para cada copo de refrigerante que o seu filho toma, ele deveria tomar 32 copos de água da boa, só para anular o prejuízo” não tem nenhum fundamento depois de tudo o que foi dito até aqui, até mesmo pelo que ele fala na correção do pH imediatamente anterior à segunda afirmação. Ela poderia ter algum fundamento se fossemos corrigir o pH do refrigerante fora do organismo humano, já que aí a correção seria puramente química, sem nenhuma interferência dos mecanismos biológicos até aqui demonstrados.

Outra dúvida que se evidencia é porque a criança “não iria bem na escola, ficaria doente, e engordaria“, por causa do pH do refrigerante? Se o tema fosse os produtos químicos contidos na bebida, adoçantes, corantes e flavorizantes sintéticos, tudo bem… mas o pH?

A pergunta aqui é porque o pH do refrigerante seria tão maléfico assim, sendo de 2.5, se o pH do seu próprio estômago é de 1.0 a 3.0?? E qual deveria ser então o mal causado pelo pH do suco de limão, que é mais ácido do que o do refrigerante? Mais ácido que o seu estômago, somente o ácido de bateria!4

Alguns valores comuns de pH:
Substância e pH
Ácido de bateria: < 1,0
Suco gástrico: 1,0 – 3,0
Sumo de limão: 2,2 a 2,4
Refrigerante tipo Cola: 2,5
Vinagre: 2,4 a 3,4
Sumo de laranja ou maçã: 3,5
Cervejas: 4,0 a 5,0
Café: 5,0
Chá: 5,5
Chuva ácida: < 5,6
Leite: 6,3 a 6,6
Água pura: 7,0
Saliva humana: 6,5 a 7,5
Sangue humano: 7,35 a 7,45
Água do mar: 8,0
Sabonete de mão: 9,0 a 10,0
Amoníaco: 11,5
“Água sanitária”: 12,5
Hidróxido de sódio (soda cáustica): 13,5

Um outro risco que pode acontecer tomando água muito alcalina e que ninguém tem falado em nenhum lugar é causar a Hipocloridria do estômago, uma doença extremamente comum e desconhecida inclusive pela maioria dos médicos de todo o mundo!Segundo um site da Coca-Cola, podemos ler que: “O pH da Coca-Cola é em torno de 2,5. A maioria dos alimentos e bebidas é ligeiramente ácida, como, por exemplo: iogurte, limonada, suco de laranja e geleias. O pH baixo da Coca-Cola tem uma função importante: intensificar o sabor e evitar o desenvolvimento microbiológico.”5

Os sintomas da Hipocloridria são muito parecidos com o da Hiperacidez e algumas vezes a utilização de antiácidos mascara a real causa da disfunção digestiva. A pepsina, uma enzima digestiva, é produzida pelas paredes do estômago, sendo secretada pelo suco gástrico e tem como função digerir proteínas. No entanto, como ela só atua em meio ácido, o estômago também produz o ácido clorídrico (HCL), que converte o pepsinogênio em sua forma ativa, a pepsina, que por sua vez atua na digestão dos alimentos proteicos. A deficiência do HCL contribui para a redução dos níveis de pepsina, consequentemente, os alimentos não são digeridos, e os sintomas de hipocloridria se desenvolvem.

Alguns dos sintomas relacionados a esse fator incluem: queimação, inchaço, eructação, sensação de satisfação ou peso estomacal, especialmente após as refeições, náuseas após comer ou tomar suplementos, candidíase por repetição, azia, indigestão, mau hálito, diarreia ou constipação intestinal, gases, unhas fracas, acne, urticárias, presença de alimentos nas fezes, entre outros. Com o envelhecimento, a secreção de HCL também pode reduzir e resultar em níveis menores de pepsina, o que dificulta ainda mais o processo de digestão.

Só para fechar com chave de ouro, vou postar abaixo mais um pouco da conversa do Rodrigo Polesso com o Dr. Souto a respeito do assunto, para enriquecer com mais alguns detalhes e não deixar pedra sobre pedra neste assunto!

Vamos lá:

Rodrigo Polesso: Então vamos para o outro assunto principal que é a questão do pH. Isso virou uma indústria, construída em redor da água alcalina e alimentação alcalina. Muitos estudos porcaria surgiram falando mal da carne, falando dessa questão do pH.

Vou ler uma pergunta da Aline Codognoto no Emagrecer de Vez: “Oi Rodrigo e Dr. Souto. Eu tenho uma dúvida que acredito que seja interessante para o podcast semanal. Estou realizando todas as mudanças na alimentação propostas pelo Código Emagrecer de vez e estou me sentido muito bem com essas mudanças. No entanto, o que dizer da questão da alcalinização do sangue que fica comprometida com a ingestão de alimentos de origem animal? Segundo muitos médicos, a saúde perfeita do nosso corpo é obtida quando equilibramos pH ácido e alcalino. De acordo com os mesmos, a ingestão de proteína animal em abundância dificultaria este equilíbrio. O que vocês têm a dizer sobre esse tema?”

Vamos falar sobre essa questão agora. Para começar, como Dr. Souto já falou, a grande verdade que todos precisam ter em mente quando falamos em pH, é que o que você come no dia a dia não tem impacto no pH do sangue. Só isso já coloca abaixo toda essa indústria marqueteira que diz que a proteína animal causa a acidificação do sangue e toda essa questão da água que você toma e muda o pH do seu sangue. O corpo mantém um controle muito estrito, controlado e minuciosos do pH do sangue. Ele varia muito pouco, de 7.35 a 7.45. O pH do sangue é muito regulado. Qualquer alteração nisso aí fará com que você morra. A integridade estrutural das enzimas do corpo vão se denegrir e você vai entrar num estado muito crítico de saúde. Então, seria um absurdo a gente conseguir alterar tanto assim a questão do pH do nosso sangue simplesmente com o que a gente come. É uma grande falácia acreditar nisso. O Dr. Souto já disse que o pH da urina muda sim. Mas o pH do sangue não muda. As pessoas pegam essas fitas na farmácia para medir o pH da urina e acham que o sangue está ácido ou alcalino. Mas é a urina que está alcalina ou ácida. Ela fica dessa forma porque o corpo faz o que precisa fazer para manter o estrito controle do pH do sangue. Então, Dr. Souto, a Aline perguntou sobre o consumo de proteína animal. Muitos médicos por aí acham que a saúde do corpo depende desse equilíbrio do pH ácido alcalino do sangue. Claro que depende, mas a influência não é nossa. O que você tem a dizer sobre tudo isso?

Dr. Souto: É difícil saber até por onde começar. Você está correto, o pH do sangue oscila muito pouco, em uma faixa muito estreita, porque é uma coisa absolutamente crucial. É difícil ter outro parâmetro no nosso corpo que varie tão pouco. Numa pessoa saudável, o pH varia na segunda casa depois da vírgula. Ele fica entre 7.35 e 7.45. É uma variação de no máximo 0,1 ponto de pH.

Nós temos mecanismos altamente sofisticados que ajudam a regular isso. O rim é o nosso grande regulador e a respiração também. O rim regula num intervalo de tempo um pouco maior, e a regulação imediata é feita pela respiração. Quando nós aceleramos nossa respiração, nós botamos mais CO2 para fora; o CO2 diluído em água é ácido carbônico, então quando o colocamos para fora, nós imediatamente alcalinizamos o sangue.

O rim faz esse controle excretando prótons e bicarbonato dependendo da necessidade. Então, nós temos um mecanismo altamente sofisticado. Qualquer bicho – ser humano incluso – durante toda evolução da espécie não fazia a menor ideia do que era pH; talvez a maioria das pessoas não lembre disso depois de terminar a química no colégio. No entanto, como a gente sobrevive? Nós sobrevivemos comendo o que queremos e o nosso corpo regula isso. É inegável que o que você come ou deixa de comer não altera o pH do seu sangue.

Vou usar uma analogia aqui: se a pessoa fabrica pedras no rim feitas de cálcio, faz sentido que a pessoa deve evitar o cálcio na dieta. Sim, faz sentido – só que não é verdade. Como descobrimos se é verdade ou não? Fazendo um experimento; um ensaio clínico. A gente pega pessoas que formam pedras nos rins, divide em dois grupos. Um grupo vai restringir o cálcio na dieta, o outro não vai e vamos ver o que acontece. Isso foi feito repetidas vezes e está provado hoje em dia que restringir o cálcio da dieta não beneficia essas pessoas. Seria lógico que beneficiasse. Mas o fato é que não é assim.

Vamos falar agora sobre o pH. As pessoas argumentam que se elas consomem uma dieta que é muito acidificante (alimentos que quando são digeridos e metabolizados deixam um resíduo ácido no organismo), o organismo utilizaria o cálcio dos ossos para tamponar essa acidez. Então, o cálcio e o fósforo dos ossos são substâncias que servem para tamponar e reduzir a acidez do sangue. Isso faz sentido. É possível que seja assim. Só que não é assim. Os estudos foram feitos. Os ensaios clínicos randomizados foram feitos. Depois, Rodrigo, podemos anexar para quem quiser conferir os estudos originais. Olha que incrível: é verdade que as pessoas que consomem uma dieta mais acidificante eliminam mais cálcio na urina. Isso pareceria comprovar a hipótese de que a pessoa está retirando cálcio dos ossos para tamponar a acidez. No entanto, o que os estudos mostram é que uma dieta com mais proteína leva a ossos mais fortes e não mais fracos. Da onde estaria vindo esse cálcio se não está vindo dos ossos? Está vindo da digestão. O que acontece é que uma dieta mais rica em proteínas leva a uma absorção mais eficiente do cálcio da dieta. Se entra mais cálcio pelo intestino, é natural que saia mais cálcio pelo rim. É um exemplo em que se tem uma teoria muito bonita – de que o cálcio estava saindo dos ossos para tamponar a acidez – mas até fazer um ensaio clínico randomizado para provar o que realmente está acontecendo, a gente não sabe, é só uma teoria. Acontece que essa teoria está equivocada. Tem mais de um estudo mostrando que a origem desse cálcio é o intestino e não os ossos. Os estudos de duração mais longa em voluntários fazendo uma dieta low-carb com mais proteína mostra que a densidade mineral óssea – que é o que interessa, já que queremos saber se a pessoa desenvolverá osteoporose – está inalterada depois de um ano de acompanhamento num ensaio clínico randomizado.

Então, “o cemitério das ideias está cheio de ideias boas”. Existem teorias que fazem muito sentido. Mas a única coisa capaz de separar a teoria da realidade são os experimentos. Pegamos pessoas (não camundongos) e separa em dois grupos para fazer um tratamento, dieta, intervenção em um grupo e compara com o outro. Essa ideia de que o pH do sangue até se mantem estável, mas é às custas dos ossos simplesmente não é verdade.

Rodrigo Polesso: O perigo é que uma ideia dessas, que é simples de se explicar, de se entender e faz sentido, é mentirosa. O pior é quando esse tipo de informação cai em quem tem poder de alcance em massa. Assim como foi por décadas a ideia de que se você come colesterol, isso gera colesterol no sangue, tranca as artérias e etc. É muito fácil explicar esse tipo de coisa para a população geral: “Eu como gordura, eu engordo”. Assim como: “Eu como alimentos ácidos, meu sangue vai ficar ácido e vou ter problemas com isso”. Apesar de fazer sentido e ser uma ideia simples, isso é mentira.

Dr. Souto: E diga-se de passagem que um dos grandes contribuidores da acidez na dieta são os grãos integrais.

Rodrigo Polesso: Ironicamente.

Dr. Souto: Ironicamente. A carne, sendo vermelha, branca ou de peixe, tendem a acidificar a urina assim como os grãos tendem a acidificar a urina. O que tende a alcalinizar a urina não é nem farinha e nem bife. Eu sei que estou sendo repetitivo, mas o que tende a alcalinizar a urina são os vegetais verdes. Vegetais verdes são as saladas em geral. Eles contém uma série de sais como magnésio, cálcio, fósforo. Eles tendem a deixar uma “cinza alcalina”. Vocês vão ver esse termo “cinza alcalina” quando pesquisarem sobre o assunto; significa que se eu pegar um brócolis e colocar fogo nele até não sobrar mais nada, vai sobrar uma cinza. Se eu misturar essa cinza na água, ela vai fazer com que eu alcalinize aquela água. Esse é o motivo pelo qual o brócolis tende a alcalinizar a urina. Se eu pegar um bife e incinerar ele até sobrar só as cinzas, se eu botar essas cinzas na água essa água tende a ficar acidificada. Por sorte, nós temos dois órgãos em formato de feijão que servem para isso. A função deles é se preocuparem com isso, não vocês.

Rodrigo Polesso: Eu ia comentar que vai surgir a dieta do maçarico agora. O pessoal vai começar a pulverizar brócolis para alcalinizar o sangue.

Dr. Souto: Já pensou que loucura a gente ter que ficar pesando, medindo e calculando o pH para dizer “já que vou comer esse pedaço de peixe, eu tenho que comer tantas gramas de brócolis para compensar” – isso é loucura, pessoal! O rim faz isso. Ele serve para isso entre outras coisas.

Rodrigo Polesso: Aproveite os benefícios de ser humano. Esse tipo de benefício vem no pacote.

Dr. Souto: O coitado do nefrologista que tem que quebrar a cabeça para fazer essas contas em quem não tem rim para fazer hemodiálise. Nós que temos a sorte de ter rins, temos um órgão fantástico que faz isso num nível de precisão de duas casas depois da vírgula que nenhum ser humano é capaz de fazer.

Rodrigo Polesso: E nós não precisamos nem pensar a respeito disso. Vamos curtir esse benefício e parar com essas balelas.

Rodrigo Polesso: Na verdade esses filtros de alcalinização da água seriam filtros de mineralização de uma água normal?

Dr. Souto: Quero crer que sim.

Rodrigo Polesso: Na melhor das hipóteses.

Dr. Souto: Alguém pode dizer que mude o pH da água por eletrólise. Através da eletrólise o hidrogênio sai na forma de gás, então a água alcaliniza. Estamos falando de quantidades mínimas no ponto de vista molar. Isso não vai ter impacto. É só a pessoa fazer uma regra de três com o volume de plasma circulante no sangue e ver quão pouco esses milimóis vão influenciar no pH geral, sabendo que nós já temos o rim. Vamos dar um exemplo bem simples. Vamos imaginar que uma pessoa pegue um copo de suco de limão puro e beba. Nós sabemos que isso é incapaz de alterar o pH do sangue (caso contrário haveria o suicídio por limonada), então porque a água com uma diluição tão grande desses sais teria um grande efeito? É uma questão de lógica elementar. É química de ensino fundamental.

Rodrigo Polesso: Certo. Para colocar uma pedra em cima desse assunto, então. Toda essa indústria que surgiu de água alcalina é conversa para boi dormir. Não é fundamentado em conhecimento científico. O grande fato que fica soberano acima de tudo isso é que nada que a gente ingira tem o potencial de alterar o nosso pH sanguíneo. Temos que dar graças a Deus que isso acontece, porque caso contrário estaríamos em grande risco de problemas de saúde. Então, se você quiser alcalinizar sua saliva ou sua urina por qualquer motivo, tome uma água com limão, que é muito mais barata do que os milhares de reais que você gastaria num filtro alcalinizador.

Fontes:

  1. http://triboforte.com.br/episodio-005-o-mito-da-agua-alcalina-calculos-renais-e-mais/.
  2. http://www.fisionerds.com.br/2016/10/afinal-de-contas-porque-gasometria.html.
  3. https://slideplayer.com.br/slide/8848357/.
  4. https://pt.wikipedia.org/wiki/PH.
  5. https://www.cocacolabrasil.com.br/nos-respondemos/qual-e-o-ph-da-coca-cola.
  6. https://pt.wikipedia.org/wiki/Suco_gástrico.

Dr. Paulo Maciel

05/08/218