El Shadday

El Shaddai como o Deus Sumeriano de Abraão

A pedido de um amigo e colega de profissão vou anexar aqui um pouco mais de estudos a respeito do nome do Deus “El Shaddai”, oferecendo bibliografias e estudos mais aprofundados, para dar embasamento teórico arqueológico e teológico para a fundamentação da teoria de que o Deus de Abraão era um deus sumeriano, assim como Abraão era também um sumeriano, da cidade de Ur!

Já vimos anteriormente que o próprio Deus se apresentou para Moisés dizendo que Ele não foi conhecido pelos patriarcas como Jeová (IHWH – יהוה), mas sim como El Shaddai: “Eu sou  Iahweh. Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó como El Shaddai (אֵל  שַׁדַּי); mas pelo meu nome, Iahweh (יהוה), não lhes fui conhecido.” (Ex 6:2-3)

Vamos então, estudar um pouco mais sobre o nome de El Shaddai:

Um livro extremamente sério e profundo sobre o Antigo Testamento escreve:

“(Shadday) Shaddai, o Todo-poderoso. Esse é um dos nomes de Deus no AT, sendo que algumas versões o deixam sem traduzir (e.g., B.J), e outras traduzem por “Todo-poderoso”. 

Este é um de uma série de nomes divinos que começam com ‘él, “Deus”: ‘él olam, “Deus eterno” (Gn 21.33) [ יהוה אל  עולם ]; él `elyôn, “Deus Altíssimo” (Gn 14.18) [ אל  עליון]; ‘él ‘elõhê yisrãél, “Deus, o Deus de Israel” (Gn 33.20)  ; ‘ël bêt-’él, “Deus de Betel” (Gn 31.13) [אל בית אל] 

Como título divino, shadday é empregado 48 vezes no AT. Na maioria das vezes aparece em Jó (31 vezes), nos lábios de quase todas as personagens dessa história: Elifaz (5.17); Jó (6.4); Bildade (8.3); Zofar (11.7); Eliú (32.8); o Senhor (40.2). Dessas 48 vezes, shadday é antecedido por ‘él, “Deus”, em sete ocasiões: Gênesis 17.1; 28.3; 35.11; 43.14; 48.3; Êxodo 6.3; Ezequiel 10.5. Nas 41 vezes restantes shadday aparece sozinho. A tradução “Todo-poderoso” remonta a tempos antigos, a pelo menos até a LXX, que traduz shadday por pantokratõr [Παντοκρατωρ], “Todo-poderoso”. Isso também se reflete na Vulgata, omnipotens. Examinando esta palavra, os rabinos concluíram que ela é um vocábulo composto do pronome relativo she, “que”, “quem”, e da palavra day, “bastante”, “suficiente”: she-day, “aquele que é (auto-)suficiente” (Talmude Babilônico, Hagigah 12a). Em tempos recentes essas hipóteses mais antigas têm sido todas rejeitadas, e novas hipóteses têm sido apresentadas em seu lugar. É preciso mencionar apenas algumas das teorias mais defensáveis. Uma delas é que shadday está associado com o verbo hebraico shadad, “destruir”, tendo desse modo o sentido de “meu destruidor”. Uma segunda possibilidade, a mais aceita hoje em dia, é de que se deve identificar shadday com o vocábulo acadiano sadu, “montanha”. Dessa maneira a tradução de ´él shadday seria “Deus da montanha”, ou seja, a morada de Deus. Deve-se entender a terminação ay como um sufixo adjetivo (e, por isso, a tradução “… da …”), um aspecto morfológico agora demonstrado em ugarítico. Por exemplo, uma das três filhas de El é chamada ‘rsy (‘artsay) e significa “ela da terra”. Além do acadiano sadu, há o ugarítico td também etimologicamente relacionado (CROSS, p. 248-50 [veja-se a bibliografia]). Na condição de él shadday Deus se manifestou aos patriarcas (Êx 6.3): especificamente a Abraão (Gn 17.1), a Isaque (Gn 28.3) e a Jacó (Gn 35.11, 43.14; 48.3). O contexto da maioria dessas referências é a aliança, mais precisamente a estipulação de obediência e fidelidade por parte do vassalo e a promessa de descendentes por parte de Deus. Não foi para os montes (que são um fenômeno da natureza) que esses homens de fé olharam em busca de confiança, mas para o Senhor desses montes, o Senhor da montanha (Sl 121.1-2).”

Bibliografia: – ALBRIGHT, W. F. The names Shaddai and Abram. JBL 54:173-93. – POPE, M. Job. P. 44.  WALKER, M. A new interpretation of the divine names ‘Shaddai’. ZAW 72:64-6. – THAT. v. 2, p. 873-81. – CROSS, F. M. Harvard Theological Review. 55 (1962):246. 1

No próprio site do Wikipedia sobre o tema “Deus”, em Hebraico (אלוהים יהדות), está escrito: 

“É possível que a origem do nome de El Shaddai venha da cidade de Shadi que existia na Idade do Bronze*, no rio Eufrates, no norte da Síria.”2

* Idade do Bronze: 3300 a.C a 1200 a.C.

Na sequência, no tema “pesquisa”, o site diz:

“A partir do século 19 levantaram-se várias teorias que definiam as fases e os marcos no desenvolvimento da fé de Israel em Deus como exemplificado na Bíblia, e alguns afirmam que podem identificar os restos e fragmentos das fases anteriores. No entanto, o estudo não tem a pretensão de obter uma imagem clara do desenvolvimento e formação da fé no Deus de Israel.

A prática destas perguntas são provenientes de teólogos e filósofos que estudam as crenças folclóricas e religiosas emergentes e por estudiosos da Bíblia que tentaram traçar as faixas que podem ser identificadas na Bíblia ou na literatura antiga paralela.

De acordo com estas teorias, durante as reformas religiosas no período do Primeiro Templo e, particularmente, durante o retorno a Sião, no início do período do Segundo Templo, houve uma consolidação gradual da percepção da divindade “El Elyon” (“אל עליון”) e “Yahweh” (“יהוה“), onde a existência de outros deuses foram negadas e foram lançadas as bases para a fé monoteísta judaica posterior.

Ainda hoje, os pesquisadores acreditam que uma das primeiras “encarnações” do Deus de Israel era um deus cananeu local, o “El Elyon” [“אל עליון”] – o deus cananeu “El” [אל] conhecido a partir das tabuletas de Ugarit, enquanto um dos deuses do panteão regional era ”Yahweh” [יהוה] . E revisões atualizadas apresentam diferentes teorias para o desenvolvimento da imagem do Deus da fé de Israel (Israel Bamon)  [ישראל באמונ] .”

As origens da Divindade “El” (אל)

 Os estudiosos assumem que a origem desta divindade é canaanita do norte. Existem muitos paralelos entre o “Deus Supremo” (El Elyon) ou o “El Shaddai” bíblico e o chefe do panteão de Ugarit. Eles compartilham seus nomes e há semelhanças em alguns de seus nomes: “El” (אל), “Deus superior” (El Elyon) e “Comprador do Céu e da Terra” (“קונה שמים וארץ”), em oposição a “El”, “El e Elyon” e “Kuna Eretz” (ץקונה אר); Eles são semelhantes em sua descrição física: como um rei sentado no seu trono, ou como um sacerdote com chifres, como está escrito na Torá: E eles são iguais em seu lugar de residência: no céu, ou na origem dos rios. Eles também compartilham mitos sobre a criação humana e do mundo, e a luta contra monstros antigos do tipo de animais, crocodilos e baleias. Como o povo judeu, os cananeus também usaram os nomes teofóricos com base no nome de El. Por exemplo, Hazael, rei de Aram (ארם מלך חזאל), Bezalel Brachael (לברכא הצלאל) e Pedal Malki Ammon ( פדאל מלכי  עמון ), e Elishat (Dido) ( ואלישת דידו ), Rainha de Cártago, carregavam a caixa “El” (“אל”) em seus nomes.

É possível que a origem do nome El Shaddai derive da cidade de Shadi que existia na Idade do Bronze* no rio Eufrates no norte da Síria.

[  יתכן, שמקור השם אל שדי נובע מן העיר שדי שהתקיימה ב תקופת הברונזה על נהר פרת בצפון סוריה.]

Evidências das obras dos cananeus que não eram filhos de Israel, o deus Osteriano pode ser visto na história de Malki-Tzedek Melquisedeque (מלכי-צדק), rei de Shalem (שלם מלך), que era um sacerdote do Deus Supremo (El Elyon), e em nome de assentamentos cananeus como Beit-El (אל  בית ). Há aqueles que acreditam que é contra esse contexto que os repetidos esforços dos escritores bíblicos para enfatizar que o nome original do assentamento era Luz (לוז) e Jacob mudou seu nome para Betel ב (בית- אל) .2

Outro autor escreve sobre “Os deuses cananeus”:

“El ocupa a posição mais importante, embora, às vezes, já pareça ser um deus otiosus**, forçado um pouco para dentro do segundo plano. Ele permanece à frente dos deuses como rei e preside a divina assembléia, isto é, o “círculo [ou ‘totalidade’] [dos filhos] de El”. El é chamado de “pai dos deuses”, “pai da humanidade” e “criador de todas as criaturas”, isto é, ele é o criador e o pai de deuses e homens. Outras inscrições semitas do ocidente também se referem a ele como “criador da Terra”. O título “rei” e o epíteto “El-touro” indicam seu poder e domínio. Ele é também o eternamente sábio, “o santo” e “o que é amigo, El, o que tem sentimento”. Sua habitação, para onde se dirigem os deuses quando querem pedir-lhe conselho, localiza-se “na nascente dos [dois] rios, entre os leitos das [duas] profundezas” (texto 49, I, 5-6). Provavelmente, isso não se refira às águas que estão abaixo da terra (POPE), mas à extremidade da terra, onde as águas que estão acima e abaixo da terra se encontram e onde, no extremo da distância mítica, o antigo Oriente Médio imaginava que se situava a montanha do mundo.3

** Deus otiosus (“Deus ocioso”), é um conceito teológico para descrever a crença num Deus criador que se distancia do mundo e não se envolve em seu funcionamento diário; o conceito de deus otiosus frequentemente sugere um Deus que extenuou-se da ingerência que tinha neste mundo e que foi substituído por deuses mais jovens e ativos que efetivamente se envolvem.

Em um site intitulado “The Name and Attributes of God”, está escrito na página El Shaddai:

El Shaddai: Pronunciado el shad-dY ‘, este é o mais conhecido dos nomes compostos de “El”. Significa O Todo-Suficiente e geralmente é traduzido nas Bíblias inglesas como “God Almighty” (“Deus Todo-Poderoso”), “the Almighty” (o “Todo-Poderoso”) or “Almighty God” (“Deus Todo-Poderoso”). A derivação exata da palavra “shaddai” não é conhecida. De acordo com a minha pesquisa, todas as seguintes palavras foram usadas em vários momentos no desenvolvimento do nome:

  • A palavra hebraica “dai”*** (que significa “lançar adiante”, “derramar” ou “para acumular benefícios”) sugere provisão, sustento e bênção. Assim, Deus é o Todo Suficiente, El Todo-Abundante. (Gênesis 42: 24-25)
  • A palavra hebraica “shad” (שד) ou “shadayim” (שדים) (que significa “mama” ou “seios”) ocorre 24 vezes como “Shaddai” e significa “Aquele que nutre, fornece e satisfaz” (Isaías 60: 16, 66: 10-13). Combinado com a palavra para Deus, “El”, então se torna o “Um poderoso para nutrir, satisfazer e suprir”.
  • A palavra de raiz hebraica “shadad” (שדד) (que significa “superar” ou “destruir”) sugere poder absoluto. Enquanto Elohim é o Deus que cria, no nome de “Shaddai”, Deus revela-se como o Deus que obriga a natureza a fazer o que é contrária a si mesma. Ele é capaz de triunfar sobre todos os obstáculos e todas as oposições; Ele é capaz de subjugar todas as coisas para si mesmo.
  • A palavra Acadiana****šaddû” (que significa “montanha”), sugere “grande força”.

Todos esses nomes – seja individual ou coletivamente -, naturalmente, seriam intensificados quando combinados com “El” e se refeririam a YHWH como aquele que nutre, satisfaz, protege e fornece o Seu povo poderosamente. El Shaddai é o nosso Sustentador Todo-Suficiente. É Deus como “El” que ajuda, e é Deus como “Shaddai” que abundantemente abençoa com todos os tipos de bênçãos.” 4

A palavra Acadiana “šaddû” (que significa “montanha”), sugere “grande força”.

*** No hebraico moderno, dai (די) significa “bastante”.

**** acádio (lišānum akkadītum), também conhecido como acadiano ou assiro-babilônio era uma língua semítica (parte da família afro-asiática) falada na antiga Mesopotâmia, particularmente pelos assírios e babilônios. A mais antiga língua semítica registrada, ela utilizava a escrita cuneiforme, que por sua vez havia sido derivada do antigo sumério, uma língua isolada sem qualquer parentesco. O nome da língua é derivado da cidade de Acádia, um dos principais centros da civilização mesopotâmica.

aban šaddî: Rocha da montanha.

šupuk šaddî: Rocha sólida.

šaddûʾa [Morador da montanha] 

Formas escritas: šadduuašadduu₈a.

Formas normalizadas: šaddûʾa (šadduuašadduu₈a).

šaddūāʾiš [Como uma montanha] (AV)

Formas escritas: KUR-u₈aìššadduu₈ìš.

Formas normalizadas: šaddūʾiš (šadduu₈ìš); šaddūāʾiš (KUR-u₈aìš).5

“Nomes assírios populares, como Assur-duri, ‘O deus Assur é minha fortaleza’; Dur-maki-Assur, “Uma fortaleza para os fracos é o deus Assur”; Assur-nemedi, ‘O deus Assur é minha base’; Ou Assur-saddi-ili, “O deus Assur é uma montanha divina”, ilustram que a deidade poderia ser percebida como um espaço muito concreto.”6

“A próxima seção explica por que o nome da cidade e o nome do deus Aššur são inseparáveis com a referência de Qal’at Sherqat, o penhasco rochoso perto do Tigris, onde as pessoas do 3º milênio encontraram abrigo. É por isso que no segundo milênio Dur-makî- Aššur (“Uma fortaleza para a semana é o deus Aššur”) e Aššur-šaddî-ili (“O deus Aššur é uma montanha divina”) eram nomes populares para o deus, representados como homens barbudos de um pico rochoso.” 6

Na página da Wikipedia em inglês sob o título “El Shaddai”, podemos ler com mais detalhes:

El Shaddai (hebraico:  אֵל  שַׁדַּי, IPA: [el ʃadːaj]) ou simplesmente Shaddai é um dos nomes do Deus de Israel. El Shaddai é convencionalmente traduzido como “Deus Todo-Poderoso”, mas a construção da frase se encaixa no padrão das denominações divinas no Oriente Próximo antigo e, como tal, pode transmitir vários tipos de relações semânticas entre essas duas palavras: “El” de um lugar conhecido como Shaddai, “El” Possuindo a qualidade de shaddai ou “El” que também é conhecido como Shaddai – exatamente como é o caso com nomes como “El Olam”, “El Elyon” ou “El Betel”. Além disso, enquanto a tradução de El como “deus” ou “senhor” na língua Ugarit / Canaanita é direta, o significado literal de Shaddai é objeto de debate.

O nome aparece 48 vezes na Bíblia, sete vezes como “El Shaddai” (cinco vezes em Gênesis, uma vez no Êxodo e uma vez em Ezequiel).

A primeira ocorrência do nome é em Gênesis 17: 1: “E, quando Abrão tinha noventa anos e nove, o SENHOR (הויה) apareceu a Abrão e disse-lhe: Eu sou El Shaddai, ande perante mim e seja perfeito”. Da mesma forma, em Gênesis 35:11 Deus diz a Jacó: “Eu sou El Shaddai: fique fecundo e multiplique, uma nação e uma companhia de nações serão de ti, e reis sairão dos teus lombos”. De acordo com Êxodo 6: 2-3, Shaddai era o nome pelo qual Deus era conhecido de Abraão, Isaque e Jacó. Shaddai, portanto, está associado à tradição com Abraão, a inclusão das histórias de Abraão na Bíblia hebraica pode ter trazido o nome do norte com eles, de acordo com a hipótese documental das origens da Bíblia hebraica.

Na visão de Balaão registrada no Livro dos Números 24: 4 e 16, a visão vem de Shaddai (שַׁדַּי) junto com El (אֵל). Nas inscrições fragmentárias de Deir Alla, embora “Shaddai” não esteja, ou não esteja completamente presente, shaddayin aparecem (שדין, as vogais são incertas, como é a geminação do “d”), talvez figuras menores de Shaddai. Tentou-se identifica-lo com os ŝedim (שדים) de Deuteronômio 32:17 e Salmo 106: 37-38, [6] que são deidades canaanitas.

O nome Shaddai (hebraico: שַׁדַּי) é freqüentemente usado em paralelo a El mais tarde no Livro de Jó.

Na Septuaginta Shaddai ou El Shaddai costumava ser traduzido exatamente como “Deus” ou “meu Deus”, e em pelo menos uma passagem (Ezequiel 10: 5) é transliterado (“θεού σαδδαϊ”). Em outros lugares (como Jó 5:17) é traduzido “Todo-Poderoso” (“παντοκράτωρ”), e esta palavra também é usada em outras traduções (como a Bíblia King James).

Etimologia de “Shaddai

A origem e o significado de “Shaddai” são obscuros, e uma variedade de hipóteses foram apresentadas.

Shaddai relacionado à “região selvagem” ou “montanha

De acordo com Ernst Knauf, “El Shaddai” significa “Deus das regiões selvagens” e originalmente não teria tido um duplo “d”. Ele argumenta que é uma palavra de empréstimo do hebraico “israelense”, onde a palavra teve um “sh” acrescentado, “no hebraico da Judéia” (e, portanto, bíblico), onde teria sido “śaday” com o som śin. Nesta teoria, a palavra está relacionada à palavra “sadé” que significa “o campo (não cultivado)”, a área de caça (como na distinção entre animais do campo, חיות השדה e gado, בהמות). Ele ressalta que o nome é encontrado nas inscrições Talmudicas (como ‘lšdy), em um nome pessoal Śaday`ammī usado no Egito desde a Era do Bronze Final até os tempos aquemênidas, e até mesmo no nome Púnico ‘bdšd  ‘(Servo de Shadé ou Shada).

Outra teoria é que Shaddai é uma derivação de um ramo semítico que aparece no shadû Akkadiano (“montanha”) e shaddā`û ou shaddû`a (“morador da montanha”), um dos nomes de Amurru. Esta teoria foi popularizada por W. F. Albright, mas foi um tanto enfraquecida quando foi percebido que a duplicação do ‘d’ mediano é documentado pela primeira vez apenas no período neo-assírio. No entanto, a duplicação em hebraico pode ser secundária. De acordo com esta teoria, Deus é visto como habitando uma montanha sagrada, um conceito não desconhecido na antiga mitologia do Oeste asiático (ver El), e também evidente nos escritos cristãos siríacos de Ephrem, o sírio, que coloca o Éden num topo de montanha inacessível .

O termo “El Shaddai” pode significar “deus das montanhas”, referindo-se à montanha divina da Mesopotâmia. De acordo com Stephen L. Harris, o termo era “um dos nomes patriarcais para o deus tribal da Mesopotâmia”, presumivelmente significado da tribo de Abraão, embora não pareça haver evidências para isso fora da Bíblia. Em Êxodo 6: 3, El Shaddai é identificado explicitamente com o Deus de Abraão e com Yhwh. O termo “El Shaddai” aparece principalmente em Gênesis. Isso também poderia referir-se à permanência do campo israelita no Monte Sinai, onde Deus deu a Moisés os Dez Mandamentos.

Shaddai significando “destruidor”

A palavra-chave “shadad” (שדד) significa saquear, dominar ou tornar desolado. Isso daria a Shaddai o significado de “destruidor”, representando um dos aspectos de Deus, e neste contexto é essencialmente um epíteto. O significado pode voltar a um sentido original que era “ser forte” como no “Shadiid” árabe (شديد) “forte”, embora, normalmente, a letra árabe pronunciada “sh” corresponde à letra hebreia, “Sin” (יןש), não “Shin” (יןשׁ). A terminação “ai”, tipicamente significando o plural possessivo de primeira pessoa, funciona como uma pluralidade excelentiae como outros títulos para a deidade hebraica, Elohim (“deus”) e Adonai (“meus senhores”). A qualidade possessiva da terminação perdeu o sentido e tornou-se a forma léxica de Shaddai e Adonai, semelhante à forma como a conotação da palavra francesa Monsieur mudou de “meu senhor” para ser um título honorífico. Há alguns versículos na Bíblia onde parece haver uma peça de palavras com “Shadday” e essa raiz significa destruir (o dia de Yhwh virá como destruição de Shadday, כשד משדי יבוא, Is. 13: 6 e Joel 1: 15), mas Knauf sustenta que esta é re-etimologização.

Shaddai significando “fertilidade”

Uma visão alternativa proposta por Albright é que o nome está conectado a shadayim, o que significa “par de seios” em hebraico (do peito sombrio e ai-im, um final que significa um substantivo duplo.  Assim, pode estar conectado à noção da fertilidade e das bênçãos de Deus para a humanidade. Em vários casos, está relacionado com a fecundidade: “Que Deus Todo-Poderoso [El Shaddai] abençoe e faça você frutífero e aumente seus números …” (Gênesis 28: 3). “Eu sou Deus Todo-Poderoso [El Shaddai]: fique frutífero e aumente em número “(Gênesis 35:11).” Pelo Todo-Poderoso [Shaddai] que o abençoará com as bênçãos do céu acima, as bênçãos do fundo que se encontra abaixo, as bençãos dos seios e do útero “(birkhōt shādayim wārāħam –  ברכת שדים  ורחם) (Gen. 49:25).

Harriet Lutzky apresentou evidências de que Shaddai era um atributo de uma deusa semítica, ligando o epíteto com šad “mama” hebraico como “o do peito”, como Asherah em Ugarit é “o do ventre” embora a palavra para peito não dobra o “d”.

Shaddai como um topônimo

Tem sido especulado que o monte na Síria chamado Tell***** eth-Thadeyn (“Tell dos dois peitos”) foi chamado Shaddai na língua amorreu. Havia uma cidade de Bronze-Age na região chamada Tuttul, que significa “dois seios” na língua suméria. Foi conjeturado que El Shaddai era, portanto, o “Deus de Shaddai” e que a inclusão das histórias de Abraham na Bíblia hebraica pode ter trazido o nome do norte com elas (ver hipótese documental).7

 ***** Na arqueologia, um Tell ou Tel (derivado do árabe: تل, alto, ‘hill’ ou ‘montículo’) é um montículo artificial formado a partir dos restos acumulados de pessoas que vivem no mesmo site por centenas ou milhares de anos. Um Tell clássico parece um cone baixo e truncado com uma parte superior plana e laterais inclinados e pode ter até 30 metros de altura.

O tema poderia ser ainda exaustivamente comentado, mas a ideia é só mostrar as formas como o nome do Deus de Abraão, El Shadday, seria o mesmo deus sumeriano que o acompanhou desde a cidade de Ur e tornou-se o Deus dos Patriarcas do Judaísmo posterior!

Fontes:

1 Dicionário Internacional de Teologia ANTIGO TESTAMENTO. Ed. Vida Nova, 1998. pp. 1529- 1530.

2 https://he.wikipedia.org/wiki/אלוהים_(יהדות): “יתכן, שמקור השם אל שדי נובע מן העיר שדי שהתקיימה ב תקופת הברונזה על נהר פרת בצפון סוריה.”

3 FOHRER, George. História da Religião de Israel, Ed. Academia Cristã, p.58.

4 http://www.myredeemerlives.com/namesofgod/el-shaddai.html

5 http://oracc.museum.upenn.edu/rinap/rinap4/cbd/akk/SH.html

6 RADNER, Karen. Ancient Assyria, A Very Short Introduction, p. 11.

 7 https://en.wikipedia.org/wiki/El_Shaddai