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Física Quântica: O observador colapsa a onda?

Uma solução simples para a questão de o “observador colapsar a onda”:

 

 

Existe uma crença popular dentro das teorias da Física Quântica de que “o observador colapsa a onda”, inferindo-se a partir daí, que nós criamos a realidade e que ela é somente o produto da nossa consciência!

Se você, meu leitor, não está por dentro deste assunto, o que eu vou escrever abaixo não terá sentido para você. Mas se você já leu, estudou e entendeu este assunto, o meu texto será de algum valor para analisarmos este tema tão complexo, apaixonante e ideológico.

A solução, simples e imediata, para a teoria de que “o observador colapsa a onda” (ou não) está nas próprias palavras do próprio Dr. Quantum, no vídeo* bastante conhecido que posto abaixo:

 

 

Ela é tão simples, que é praticamente imperceptível; mas existe um artifício no vídeo que distorce totalmente a percepção de quem assiste, convencendo-o de que “nós colapsamos a onda”. É como um truque de mágica, onde a plateia não percebe em que momento o mágico distrai a sua atenção para fazer a magia! Eu também vou usar um artifício para demonstrar o truque do mágico: vou destacar algumas palavras do vídeo, sublinhando-as e marcando em duas cores diferentes, que vão matar a charada (incluí os “nós” implícitos nas frases, para ficar mais evidente a conclusão final). Para melhor resultado, você pode deixar o vídeo rodando, enquanto vai lendo o texto abaixo:

“E estamos aqui com o vovô de toda a esquisitice quântica: o nada famoso experimento da dupla fenda. Para entender este exemplo, nós precisamos ver como partículas, ou bolinhas de matéria, agem. Se por acaso nós lançarmos um pequeno objeto pela fenda, que pode ser uma bolinha de gude, nós podemos ver um modelo na parede de trás pois as bolinhas passaram pela fenda e bateram lá. Agora, se nós colocarmos uma segunda fenda, nós esperamos ver uma segunda tira duplicada à direita.

Agora nós vamos ver as ondas: as ondas batiam na fenda e irradiavam batendo na parede de trás com maior intensidade diretamente na linha da tira. A linha iluminada, na parede de trás, mostra esta intensidade. É parecida com a linha que as bolinhas de gude fizeram. Mas, quando nós adicionamos a segunda fenda, acontece uma coisa diferente. Se o topo de uma onda encontra a parte de baixo da outra onda, elas se anulam. Agora existe um modelo de interferência na parede de trás. Os lugares onde dois tombos se encontram são os de mais intensidade, as linhas de luz e onde elas se anulam, não tem nada.

Então, quando nós jogamos coisas, quer dizer matéria, através de duas fendas, nós temos isso: duas linhas! E com ondas nós temos um modelo de interferência com muitas linhas. Por enquanto está tudo bem. Agora, nós vamos ligar quânticos… hehe

Um elétron é um pedaço bem pequeninho de matéria como uma bolinha de gude. Nós vamos jogar uma corrente por uma fenda: se comporta como uma bolinha de gude: uma linha só. Então se nós lançarmos essas coisas pequeninhas pelas duas fendas, nós deveremos ter, como as bolinhas, duas linhas. O quê? Um modelo de interferência! Nós lançamos elétrons, pedaços bem pequenininhos de matéria, mas nós temos um modelo igual ao das ondas, não como das bolinhas. Como? Como pedaços de matéria podem criar um modelo de interferência como o das ondas? Isto não faz sentido!

Mas, os físicos são expertos. Eles pensaram: talvez estas bolinhas estejam pulando umas nas outras e criando este modelo. Então, eles resolveram lançar os elétrons um de cada vez. Assim não teria jeito de um interferirem um no outro; mas depois de uma hora, o mesmo modelo de interferência estava aparecendo! Não existe outra explicação: o elétron, sozinho, sai como uma partícula, se torna uma onda de potenciais, passa pelas duas fendas, e interfere consigo mesma, para bater na parede como uma partícula. Mas matematicamente é mais estranho ainda: passa pelas duas fendas e por nenhuma; e passa por uma só e passa só pela outra; todas estas possibilidades estão em superposição uma com outra. Mas os físicos ficaram incomodados com isso. Então decidiram espiar e ver por qual fenda o elétron realmente passa. Eles colocaram um equipamento medidor em uma fenda para saber em qual delas o elétron passou e seguiu voando. Mas o mundo quântico é muito mais misterioso que eles podiam imaginar. Quando eles observaram, o elétron voltou a se comportar como uma bolinha de gude: ele produziu o modelo de duas linhas e não um modelo de interferência com várias linhas. Só o ato de medir, ou observar, por qual fenda o elétron atravessaria, fez com ele passasse por uma fenda e não pelas duas. O elétron decidiu agir diferente, já que ele sabia que estava sendo observado.

E foi assim que os físicos entraram nesta terra estranha e misteriosa dos eventos quânticos.

O que é a matéria: bolas de gudes, ou ondas? E ondas de quê? E o que o observador tem a ver com tudo isso? O observador acabou com a função de onda, simplesmente por observar!

Conseguiu perceber onde está o truque e onde está a confusão?

  1. Os físicos (ou “observadores”), estavam presentes todo o tempo, desde o início do experimento da dupla fenda! Foram os cientistas que foram até o laboratório, montaram os equipamentos, ligaram o canhão de elétrons e viram os padrões de partículas com a fenda simples e de onda com a fenda dupla. Ou seja, os cientistas observaram o tempo todo, desde o início do experimento, e em nenhum momento as ondas colapsaram simplesmente pelo fato deles terem “observado” tudo o tempo todo e nos mínimos detalhes!
  2. Só quando “Eles (“os observadores”) colocaram um equipamento medidor em uma das fendas para saber em qual delas o elétron passou e seguiu voando, o elétron voltou a se comportar como uma bolinha de gude! Bingo! O colapso da onda só aconteceu quando um equipamento medidor de elétrons foi colocado em uma das fendas, e em nenhum outro momento em que os cientistas observavam o experimento!
  3. O truque para “distrair” (enganar) o espectador é a imagem do olho que aparece aos 3:40 minutos do vídeo. O vídeo diz que “eles colocaram um equipamento medidor em uma fenda para saber em qual delas o elétron passou e seguiu voando”; mas, no vídeo, aparece um olho humano piscando! Que ideia isto nos traz? Justamente: De que é o nosso olho que está olhando por onde o elétron passou! E ainda completa a frase para confundir ainda mais: “Quando eles observaram, o elétron voltou a se comportar como uma bolinha de gude”. E fecha com chave de ouro: “Só o ato de medir, ou observar”, colocando novamente o olho humano piscando! E uma das conclusões do vídeo é completamente absurda: “O elétron decidiu agir diferente, já que ele sabia que estava sendo observado” (pelo olho humano, aos 4:20). A conclusão do vídeo é fatal: “E o que o observador tem a ver com tudo isso? O observador acabou com a função de onda, simplesmente por observar” (olho humano piscando, aos 4:45 minutos).
  4. Finalmente, concluindo o meu raciocínio: ‘O que o observador tem a ver com tudo isso’ (colapso de onda)? Absolutamente nada! ‘O observador acabou com a função de onda, simplesmente por observar’? Absolutamente, não! Quem colapsou a onda foi o equipamento medidor!

Ficou alguma dúvida? O truque do mágico do vídeo ficou claro?

Eu sei que o assunto é muito complexo e que envolve muita gente grande atualmente em todo o mundo e muita grana também, incluindo literatura, youtube, filmes, congressos, terapias, filosofias e remédios, todos intitulados “quânticos” a partir desta compreensão errônea da interação do Ser Humano com a Física Quântica!

Estou preparando uma série de textos para avaliar, rever e redimensionar toda a parafernália quântica midiática e comercial que estamos vendo atualmente.

Sugestões, críticas, dúvidas e ideias serão bem-vindas, analisadas e respondidas na medida do possível.

Dr. Paulo Maciel

* A animação é com o personagem Dr. Quantum (Dr. Fred Alan Wolf) do filme “Quem Somos Nós? Uma Nova Evolução”