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A Humanidade e os Apocalipses

Por que grande parte da humanidade sempre esperou um apocalipse?

Por que muitas culturas humanas marcam um tempo para o mundo acabar?

O que está por trás da ideia do “Fim do Mundo”?

 

A primeira coisa que chama a atenção a respeito dos apocalipses é que sempre existem dois lados opostos numa luta cósmica de forças: o Bem e o Mal.

A segunda coisa é que todos os que creem nos apocalipses creem que estão entre os escolhidos e que no final sempre haverá a separação do joio e do trigo (os maus x os bons, os perdidos x os salvos).

A terceira questão é que os seres humanos estão como expectadores e participantes deste drama cósmico, onde escolher o “lado certo” garante a salvação.

Estou escrevendo este artigo como prometido antes do “Dia do Fim do Mundo” profetizado pelos esotéricos estudiosos do Calendário Maia. O dia 21 de dezembro de 2012 seria o fim da humanidade a partir de desastres planetários causados por explosões solares e inversão do eixo da Terra, conforme declarava Patrick Geryl e outros autores.

Herdeiros da cultura dos maias, os astecas consideravam que a cada 52 anos (o reencontro de dois calendários: o solar Haab de 365 dias e o lunar Tzolk’in de 260 dias) o Sol corria o risco de desaparecer e por isso eles faziam sacrifícios humanos para garantir o renascimento do mundo. E além destes calendários os maias usavam outro chamado de “Grande Ciclo” para registrar uma contagem mais longa de tempo, que segundo os estudiosos teria começado no dia 12 de agosto de 3.113 a.C. e que se estenderia por 5.125,36 anos, até fechar em 21 de dezembro de 2.012 d.C.

Por várias razões explicadas em meu outro texto, muitos ocidentais foram associando esta data com a ideia do Fim do Mundo, fazendo uma releitura do Apocalipse que não ocorreu no ano 2.000 d.C., como esperado pelos cristãos do mundo todo… Apesar do frenesi que causou em muitas pessoas ocidentais, os estudiosos acadêmicos nunca concordaram com esta hipótese sobre o calendário maia: “Não há nada em qualquer profecia maia, asteca ou da antiga Mesoamérica que sugira que eles profetizaram qualquer tipo de grande ou súbita mudança em 2012”, diz o estudioso dos maias Mark Van Stone. “A noção de que um “Grande Ciclo” vai chegar ao fim é uma invenção completamente moderna.” 

Em 1990, os estudiosos maias Linda Schele e David Freidel argumentaram que os maias “não conceberam que isso seja o fim da criação, como muitos sugeriram”. Susan Milbrath, curadora de Arte e Arqueologia Latino-Americana no Museu de História Natural da Flórida, declarou: “nós não temos nenhum registro ou conhecimento de que os maias pensavam que o mundo chegaria ao fim” em 2012. “Para os antigos maias, isso era uma grande celebração que seria feita até o fim de um ciclo”, diz Sandra Noble, diretora executiva da Fundação para o Avanço dos Estudos Mesoamericanos em Crystal River, Flórida, Estados Unidos. A escolha de 21 de dezembro de 2012 como o dia de um evento apocalíptico ou de um momento cósmico de mudança, diz ela, é “uma completa invenção e uma chance de lucro para muitas pessoas”. ”Haverá um novo ciclo”, diz E. Wyllys Andrews V, diretor do Instituto de Pesquisas Mesoamericanas da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, Louisiana. “Nós sabemos que os maias pensavam que houve um antes, o que implica que eles estavam confortáveis com a ideia de um outro depois”.

Uma das questões mais interessantes neste aspecto a ser observado é que todas as culturas que acreditam na existência de um só Deus ou dos Deuses tenham a necessidade de “agradar” a estes deuses para garantir sua aprovação e sobrevivência. O reconhecimento, a adoração e o sacrifício sempre formaram a tríade da relação humana com o divino… Historicamente vemos também que este mesmo sacrifício veio evoluindo ao longo dos tempos: inicialmente, o rei era sacrificado anualmente na Mesopotâmia e o seu sangue derramado na terra para recriar o ciclo da vida; depois foram sacrificados outros seres humanos, de preferência mulheres virgens e crianças puras, no lugar do rei; numa terceira etapa eram sacrificados animais puros e sem manchas e, finalmente, Jesus é morto como o “cordeiro de Deus”!

E tudo isto vem de uma lenta evolução do ego e do pensamento humano, que se inicia com o assombro e o medo perante os mistérios da vida, depois com o surgimento da magia e posteriormente das religiões humanas. Vou fazer agora um breve relato sobre esta evolução do pensamento humano para podermos entender melhor a explicação final, ok? Como sempre, tenham paciência na leitura e meditem sobre tudo isto.

Inicialmente o homem primitivo via o mundo como um grande mistério, cuja trajetória da vida humana cruzava algumas décadas cercadas por perigos reais (fome, animais, inimigos, intempéries) ou imaginários (espíritos, forças da natureza e sombras). O medo era um companheiro constante dos homens primitivos, ainda mais durante as noites longas e intermináveis ou durante momentos de grande perigo como ataques de animais, inimigos ou intempéries climáticas. Neste nível da existência do ser humano o ego ainda se achava perdido no inconsciente coletivo e os homens apenas faziam parte do mundo como um todo, não se vendo como algo especial ou criado à parte de tudo o que ele via e sentia. Tudo o que era vivido era real, assim como os sonhos e as sombras.

Mas lentamente o ego começa a tomar consciência da sua própria existência e individualidade e o homem começou a criar mecanismos mágicos para controlar os eventos fortuitos da vida e passa a construir um conceito de ordem e origem de todas as coisas. Para a maioria dos meus leitores, que nunca passaram uma longa e angustiante noite escura no meio de uma floresta repleta de animais e mistérios, o que estou escrevendo pode não fazer muito sentido… Mas para o homem primitivo que viveu antes do domínio do fogo, todas as noites eram assombrosamente assustadoras; e quanto mais exposto ele estivesse, maior era o seu medo e mais forte a sua insônia…

A Ciência nos diz que os Pitecantropos, nossos antepassados, descobriram como dominar o fogo há aproximadamente 500.000 anos atrás. No interior das cavernas chinesas daquela época foram encontrados restos de carvão das suas velhas fogueiras, ao lado dos seus esqueletos fossilizados.

Com o domínio do fogo nossos antepassados passaram a iluminar a escuridão da noite, a afastar os animais predadores noturnos e os espíritos que se esgueiravam nas sombras, além de conseguir o seu calor para aquecer seus corpos no frio e de assar as carnes que os nutriam em suas viagens pelo mundo. Por isso o fogo, juntamente com sua luz e seu calor, tem tanta importância em todas as histórias humanas e religiosas.

Se formos fazer um paralelo desta descoberta humana do fogo, podemos ler logo no início do Gênesis: “No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. Geen 1:1-4

Observem que este texto diz que o Espírito de Deus se movia “nas trevas” sobre a face das águas e depois que criou a luz, Ele viu que ela era boa…

A partir do controle do fogo os homens passaram a viver e a pernoitar nas cavernas, já que ficavam mais protegidos do que amontoados nas planícies ou nas florestas como os chimpanzés e gorilas ainda fazem até hoje.

E é justamente naquelas cavernas que encontramos os primeiros indícios dos primórdios da magia: ainda segundo a Ciência, os Neandertais (sucessores dos pitecantropos) foram os primeiros a desenvolverem cerimônias mágicas, tanto para o enterro dos seus familiares, quanto para o domínio da caça e dos espíritos. Assim, a milhares de anos atrás, eles já erguiam pequenos muros circulares de pedras e colocavam ossos de ursos em uma disposição geométrica e preparavam o crânio dos mortos limpando-os da carne e retirando o cérebro e o depositavam junto com o corpo numa cova rasa recoberto de flores.

Há uns 50.000 anos surge a nossa espécie, o homo sapiens, que conviveu com os neandertais, miscigenando ou não com eles, até absorve-los completamente.

Entre 17.000 e 15.000 anos, os homens passaram a fazer desenhos nas cavernas onde habitavam, como na famosa Caverna de Lascaux. Estes desenhos costumavam ser feitos nos lugares mais inacessíveis e ocultos, demonstrando já a tendência ao mistério e ao segredo espiritual. Além das suas próprias mãos desenhadas com tintas assopradas, os pintores representavam animais bem realistas e símbolos mágicos quadrados ou retangulares, divididos em xadrez coloridos.

Ainda hoje tribos do sul do Saara desenham animais no chão e dançam à sua volta, desferindo flechadas e golpes de lança sobre suas figuras. Isto é chamado de “magia simpática”, onde se acredita que a imagem representa o objeto a ela associada (pessoas ou animais, como no Vodu atual).

Como entre os atuais xamãs do mundo inteiro, os homens primitivos já possuíam a figura do feiticeiro que se vestia com adereços e pintava seu corpo com símbolos espirituais para se tornar o intermediário entre o mundo dos vivos e dos mortos e para presidir o ritual de iniciação dos jovens da sua tribo, a fim de serem declarados adultos. Entre os índios contemporâneos assim como para o homem paleolítico, não havia adolescentes mas somente crianças e adultos – e estes rituais que aconteciam com danças ao som de flautas e arcos musicais, marcavam esta passagem definitivamente.

Quem estuda antropologia sabe que um dos maiores medos do homem primitivo (e mesmo dos atuais) é o de que os mortos voltem dos seus mundos espirituais e apareçam para os vivos! Por isso todas as culturas humanas trataram de afastar os mortos do “nosso” mundo, e nas culturas primitivas os mortos eram esconjurados pelos feiticeiros, seus túmulos eram fechados com terra e pedra e muitas vezes seus corpos eram amarrados e enterrados. Outras vezes suas cabeças, braços e pernas eram mutilados ou arrancados e seus pés, triturados.

Em muitas outras culturas os espíritos dos mortos eram temidos e precauções tinham que ser tomadas quando uma pessoa morria. Por exemplo, os Choctaw do sudoeste acreditavam que a alma de uma pessoa morta na guerra, ou por bruxaria, ou por homicídio não começaria sua viagem ao além antes que a sua morte fosse vingada. Eles também acreditavam que mencionar o nome do morto era potencialmente perigoso, e por isso existiam regras que proibiam os vivos de usar os nomes dos mortos por um certo período de tempo.

Até hoje entre os ocidentais, quando se fala o nome de um morto, logo em seguida se diz: “que Deus o tenha em um bom lugar” ou “que esteja em paz”, para garantir que ele esteja bem longe daqui.

Os Navajo do Sudoeste acreditavam que a alma de alguém morto por raio era tão perigosa que eles nem sequer faziam nenhum ritual funerário. Em tais casos, a pessoa e o hooghan eram simplesmente queimados e abandonados. Os índios Shoshon também temiam os espíritos ou fantasmas daqueles que por qualquer motivo permaneciam na terra. Sonhar com as pessoas mortas também era considerado de mau agouro.

O imenso medo dos mortos é provavelmente melhor ilustrado com os costumes funerários dos Navajo. Os Navajo acreditavam que os mortos eram entidades potencialmente perigosas, e portanto eles tomavam cuidados muito especiais nos seus rituais, inclusive tendo o cuidado de colocar os mocassins da pessoa morta nos pés errados, ou seja, o pé direito no esquerdo, e o esquerdo no direito. Isto assegurava que o morto teria dificuldade de caminhar de volta para sua aldeia. Uma vez que o corpo era enterrado, os objetos funerários eram quebrados ou estragados. Depois do enterro os participantes voltavam à aldeia por um caminho diferente, e ao invés de caminhar eles iam saltando e pulando, para se assegurar que o espírito do morto não os seguiria. Os participantes então se purificavam com fumaça e ficavam dentro de suas casas por um período de luto de quatro dias.

Os Kayapós brasileiros enterram os seus mortos em um espaço bem preciso, fora do círculo da aldeia. A sepultura é composta de um poço de forma circular, no qual o corpo é colocado na posição sentada, o rosto sempre dirigido ao leste. O fosso é coberto depois de diversos objetos pessoais do falecido ser colocados embaixo, como cabaças, armas e alguns ornamentos. O espírito levará estes objetos para a sua nova morada. Nas primeiras semanas que seguem o falecimento, os parentes deixam cotidianamente um pouco de comida e bebida ao lado da sepultura, pois o espírito nem sempre encontra imediatamente o caminho que conduz à aldeia dos mortos.

Os espíritos podem recair em nostalgia, o que acarreta entre os homens o medo de que eles possam tentar “buscar” um membro de sua própria família. Por isso, parentes de um recém-falecido serão extremamente prudentes: para espantar os espíritos, iluminarão a casa com grandes fogos que produzem muita fumaça. O simples fato de olhar um espírito é mortal e esse último costuma esperar o momento oportuno para capturar a alma de um doente ou de um parente fraco.

Além da crença que os mortos sobreviviam em “outro mundo” e do medo que eles retornassem para o nosso, nossos antepassados também acreditavam nos espíritos da natureza e começaram a construir uma cosmologia e uma teologia primitivas, mas coerentes com os seus mundos e culturas da época.

Já consciente do seu ego e de estar separado de todas as outras coisas, o ser humano tentou explicar esta condição a partir dos mitos da criação de cada povo. E um dos pontos fundamentais de todas as histórias da criação é a presença da Luz, que se separa das Trevas e que permite que “tudo seja revelado” (E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. Gen 1:1-4). Mas na maioria dos mitos primitivos a Luz não é criada “à parte” como diz o Gênesis, mas vem do Sol, a grande fonte de Luz, muitas vezes divinizada…

Nas lendas guaranis, a figura primária na maioria dos mitos da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.

Na narração da Criação dos Aborígenes da Austrália, o tempo do Sonho, está ainda muito presente na sua cultura, na sua religião e no seu modo de vida. O tempo do Sonho começou quando o Criador de todas as coisas, de nome Baiame, acordou a Mãe-Sol. Quando esta abriu os olhos, uma doce luz inundou a Terra. O Criador enviou a Mãe-Sol para a Terra, uma planície estéril, para que ela aí despertasse os Antepassados. À passagem da Mãe as plantas começaram a nascer. Uma vez acordados os Antepassados, também chamados Espíritos, começou verdadeiramente a criação da Austrália, das suas paisagens e da sua fauna.

Para os Astecas, antes da Criação, Ometecuhtli e Omecihuatl (os aspetos masculino e feminino do deus criador Ometeotl) viviam num mundo de trevas. Por ocasião dos seus grandes passeios, viam de tempos a tempos o brilho dos olhos de um monstro escondido na escuridão. Por acaso, Omecihuatl tocou num desses monstros, que instantaneamente se transformou num brilhante ponto luminoso. Maravilhados com este resultado inesperado, os dois deuses tocaram em todos os outros monstros que conseguiram encontrar, até que se aperceberam que o céu estava cheio de estrelas. Em breve, quiseram muito mais, e decidiram criar o Mundo para não ficarem sós.

Assim, a representação da Luz sendo criada após as Trevas indica o surgimento do Ego a partir do Inconsciente e o ponto inicial de toda a criação “do mundo”. É interessante observar que este mito da criação da Luz antes de tudo o mais está inclusive inserida na mais contemporânea teoria científica – o Big Bang! Outra curiosidade é que a teoria foi criada por um padre belga (Georges Lemaitre 1894-1966), sugerindo que o universo teria tido um início repentino numa grande explosão luminosa a partir do acúmulo de uma quantidade imensurável de energia em um único ponto, chamado de singularidade primordial que teria se expandido e no momento da explosão teria originado não apenas a luz, mas também toda a matéria de que se compõe o universo, o tempo e a gravitação universal.

Evoluindo ainda mais no tempo e na história, com a criação das civilizações antigas (Mesopotâmia, Egito, China), vemos as teorias da criação sendo cada vez mais elaboradas, mas que encontram pontos em comum, provavelmente pela transmissão da cultura na integração dos povos:

Eis a descendência de Taré: Taré gerou Abrão, Nacor e Arã. Arã gerou Ló. Arã morreu na presença de seu pai Taré, em sua terra natal, Ur dos caldeus. (Gn 11:27-28) Ele os fez sair de Ur dos caldeus para ir ao país de Canaã, mas, chegados a Harã, ali se estabeleceram. (Gn 11:31) Iahweh disse a Abrão: “Deixa teu país, tua parentela e a casa de teu pai, para o país que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê tu uma benção! (Gn 12:1-2)

Durante milhares de anos o ser humano acreditou no politeísmo, uma grande constelação de deuses que governavam cada um, uma característica humana e uma força da natureza. Mas antes mesmo da criação da Luz, a partir de onde tudo podia ser visto, existia quase sempre estra trilogia: uma divindade, o caos e as águas primordiais.

Dentre as culturas “civilizadas” foram os povos agrários da Suméria que nos deixaram o mais antigo nome conhecido de uma divindade criadora do universo. Nammu, a mãe que deu nascimento ao céu e à terra, é descrita em alguns poucos fragmentos extremamente antigos, sendo que o ideograma usado para seu nome significa tanto ‘mãe’ quanto ‘oceano’. Esta mãe-oceano, diretamente associada com as águas uterinas, é o grande útero abissal, o profundo maternal, que encontramos nos mitos de todas as grandes culturas.

O mito da criação sumeriano nos chegou através de sete tábuas de argila da biblioteca de Assurbanipal em Nínive, do séc. VII a.C., as quais devem ter-se baseado em textos originais muito mais antigos (O Enuma Elish babilônico).  A água é o elemento primordial. Da fusão da água doce (Apsu) com a água salgada (Tiamat) nasceram todos os seres, iniciando com os deuses (cujo panteão contava com mais de 3.000 divindades). Apsu era uma espécie de abismo cheio de água, o qual rodeava a terra. A terra era um planalto circular limitado por montanhas, nas quais descansava a abóboda celeste, e flutuava nas águas de Apsu.  Tiamat era a personificação do mar e representava o elemento feminino que deu vida à terra. Na continuação da história ela representa as forças cegas do caos primitivo contra a qual lutavam os deuses. Lakhmu e Lakhamu foram os dois primeiros deuses a nascerem. Eles eram deuses um tanto indefinidos, e pareciam um casal de serpentes monstruosas. Eles deram vida a Anshar, o princípio masculino, e Kishar, o princípio feminino, os quais representavam, respectivamente, os mundos celestial e terreno.

No Épico da Criação mesopotâmico o papel principal coube a Marduk, o deus que triunfa sobre Tiamat e organiza o universo. Vejamos agora como o povo da Suméria e da Acádia explicava a origem do mundo:

No princípio, quando ‘o céu acima não tinha ainda sido nomeado e a terra abaixo era anônima’ existia apenas Apsu, o oceano primordial, e Tiamat, o oceano tumultuoso. Da mistura das suas águas surgiu primeiro Mummu (o tumulto das águas) e depois um par de serpentes mostruosas, Lakhmu e Lakhamu, as quais, por sua vez, deram vida a Anshar, o mundo celestial, e a Kishar, o mundo terreno. De Anshar e Kishar nasceram os grandes deuses: Anu, o poderoso; Ea, o vasto intelecto; e as outras divindades. Os últimos foram Igigi que povoou o céu, e Anunnake que semeou sobre a terra e o submundo.

Para os egípcios, assim como para os mesopotâmicos, antes de todas as coisas terem sido criadas não havia senão trevas e “água primordial”, o Nun. Todos os poderes preexistiam de forma indefinida e não manifesta nas águas primevas, este lugar cósmico do qual todas as expressões de vida emergem no tempo atemporal e ao qual retornam no final de cada era. Seu mito cosmogônico mais antigo relata que antes que o mundo tivesse sido formado, existia apenas uma extensão ilimitada e informe de massa aquosa, envolvida por uma profunda e silenciosa escuridão, que ocultava o poder invisível e incognoscível de toda a vida. Tendo existido por toda eternidade, no silêncio e na profundidade do abismo aquoso, os elementos primevos desta substância primordial, por alguma razão interna, começam a interagir de forma explosiva, até romperem todas as tensões equilibradas que restringiam seus poderes elementares. Surgiu o senhor todo-poderoso Atum, que se criou a si próprio a partir do Num, por ter pronunciado o seu próprio nome. Diferenciando-se nessa substância cósmica original, as forças se estruturam em quatro pares de opostos complementares, constituídos cada um de um polo feminino serpente e um polo masculino sapo. Enquanto os polos masculinos representam a inconsistência líquida, o espaço em expansão, a escuridão e o oculto, os polos femininos representam, respectivamente, a substância cósmica, a contração no tempo, a luz que ilumina e aquilo que é visível e conhecível. Ao vibrarem, estas forças são articuladas e o ritmo da vida é colocado em movimento. E a partir da energia liberada dentro da matéria primitiva revolta, ergueu-se o primeiro montículo chamado de “Ilha de Fogo”, pois foi de seu horizonte que Ra se elevou e o universo observou o brilho mágico do primeiro nascer do Sol.

Reencontramos esta mesma mitologia no Gênesis: “No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Gen 1:1-2. Em relação ao Judaísmo recordemos que Abraão saiu de Ur (mitologia sumeriana) e Moisés saiu do Egito (mitologia egípcia), de onde beberam em suas fontes religiosas.

É interessante observar, neste ponto da evolução do pensamento religioso, que em todas as religiões antigas existia sempre um único deus que tudo criava a partir do caos, das trevas e das águas primordiais, a luz e todo o universo conhecido e inclusive os outros deuses e as polaridades masculina e feminina, de onde derivavam os seres humanos. Portanto, a ideia original é sempre a de um Deus único, criador de tudo! Isto provavelmente acontecia porque é difícil para qualquer pessoa, mesmo para um homem primitivo, imaginar que mais de uma coisa existia simultaneamente desde o princípio… A lógica e a intuição sempre nos dizem que tudo o que existe veio de “alguma coisa” e esta coisa é uma unidade. Esta unidade “se” divide e cria a dualidade; e a união da dualidade cria a trindade… Tão simples assim!

A partir deste ponto passaram a surgir dezenas, centenas e até milhares de deuses ao longo da história humana e de suas culturas, juntamente com seus anjos e outros espíritos da natureza. Na medida em que o ego foi se complexando, a visão humana foi expandindo o seu panteão divino.

Em meu livro “Os mitos e a Realidade dos Anjos e da Bíblia” eu descrevo longamente (mais do que aqui…Rs) a construção do pensamento judaico a partir da mitologia sumeriana. Como citado em meu livro Abrão (que segundo a Bíblia é o primeiro dos patriarcas e considerado o fundador do Judaísmo), nasceu na cidade de Ur! Isto irá explicar a origem de grande parte do pensamento hebraico, em particular o mito da criação judaica. Entretanto existe um erro neste texto na Bíblia quando cita a cidade de Ur “dos caldeus”. Ora, o império babilônico-caldeu teve início apenas no ano de 625 a.C., portanto muitos séculos depois do Êxodo de Abrão. Como na época em que o Gênesis foi escrito não se conhecia a história da Suméria, mas apenas a da Caldéia, a cidade de Ur ficou registrada na Bíblia como sendo caldaica.

Um recenseamento oficial dos deuses babilônicos, empreendido no século passado, apresentou o número de 65.000 divindades! Os mais velhos de todos eram os deuses astronômicos: Anu, o céu; Shamash, o sol; Nannar, a lua; e Bel, ou Baal, a terra. Cada família tinha os seus deuses caseiros, cada indivíduo tinha uma divindade protetora, e gênios da fecundidade pairavam por toda a natureza. Aos poucos o número de deuses foi decrescendo, até que Marduk tornou-se o soberano de todas as divindades babilônicas. Daí o seu título de Bel-Marduk: “Marduk, o Deus”.

Em um dos épicos da criação, Marduk mata Tiamat e organiza o mundo, construindo uma moradia para os grandes deuses no céu e instalou as estrelas que são suas imagens; ele fixou a duração do ano e regulou o curso dos corpos celestes. Assim a terra foi formada. Então, “a fim de que os deuses pudessem viver em um mundo que alegrasse seus corações”’, Marduk criou a humanidade, moldando o corpo do primeiro homem usando o sangue de Kingu.

Na sexta tabua de argila do Enuma Elish lê-se que Marduk “decide criar os seres humanos mas precisa de sangue para os criar”, e decide que apenas um dos deuses poderá morrer: o culpado de lançar o mal sobre os outros deuses. Marduk consulta o conselho e descobre que quem incitou a revolta de Tiamat foi o seu marido, Kingu. Marduk mata Kingu e usa seu sangue para criar o Homem, de forma a que este sirva de criado dos deuses. Em honra a Marduk, os deuses constroem-lhe uma casa na Babilônia, havendo um grande festim para os deuses quando terminada.

São várias as similaridades entre a história da criação no Enuma Elish e a história da criação no Gênesis, que descreve seis dias de criação, seguido de um dia de descanso, enquanto que o Enuma Elish descreve a criação de seis dias e um dia de descanso. Em ambos a criação é feita pela mesma ordem, começando na Luz e acabando no Homem. A deusa Tiamat é comparável ao Oceano no Gênesis, sendo que a palavra hebraica para oceano (Tehon) tem a mesma raiz etimológica que Tiamat.

Em outros mitos sumerianos, a deusa Ninhursag, nascida de Anu e Antu, teve um filho chamado Ninurta com o deus Enki e um filho chamado Marduk com o deus Enlil. Com o nome de “Ninmah” – Grande Rainha, auxiliou Enki na criação da raça humana; ela, juntamente com Nammu, modelaram o homem em argila. Portanto, unido os mitos sumerianos, o homem foi criado com argila e sangue de um deus e na Gênesis, com argila e o sopro de Elohim.

Um paralelo interessante é que os deuses sumerianos criaram o homem para que “servisse de criado”. E no Gênesis Deus fez o homem para ser seu agricultor:

“E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra. E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado.”  Gen 2:5-8

Agora podemos compreender porque em Gn 1:26 Elohim disse: “Façamos o homemà nossa imagem, conforme a nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se rastejam sobre a terra.” Na sequência, está escrito: Depois disse o Senhor Deus: “Se o homem já é como um de nós, conhecendo o bem e o mal, que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre.” (Gn 3:22) Num terceiro momento, aparece claramente a presença de uma classe de anjos: “Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim do Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida.” (Gn 3:24)

Lemos na Bíblia de Jerusalém uma tentativa de explicação deste fato: “Este plural pode indicar uma deliberação de Deus com sua corte celeste (os anjos) … Os Padres viram aqui insinuada a Trindade”. Já os estudiosos judeus explicam que a fala de Deus aqui no plural é um “plural majestático” (pluralis majestatis) ou de excelência (pluralis excellentiæ), expressando grande dignidade, traduzindo-se por “Elevadíssimo” ou “Altíssimo”, uma forma do próprio Deus falar de Si no plural. Mas não explica porque, logo em seguida, Deus volta a falar no singular: “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. Gen 1:29” Esta “corte celeste”, com quem Deus fala no plural é um resquício do panteão sumeriano ou até mesmo egípcio, como demonstrado anteriormente.

Assim, caminhando ao longo das eras e das religiões, podemos observar certos padrões comuns a todas as divindades dos panteões politeístas: Thor, Zeus, Júpiter e Xangô representam o Poder, deuses do trovão e dos céus; Astarte, Afrodite, Vênus e Idun simbolizam o Amor; Thot, Hermes, Mercúrio e Heimdall são o deus do conhecimento e da Luz; Artemis, Diana e Oxóssi, a deusa da caça e da natureza; Cronos e Saturno é o senhor do tempo; Ares, Marte, Tyr e Ogun, o deus da guerra; Poseidon, Netuno e Aegir o regente dos Mares; Hades, Plutão e Homulu, o deus dos mortos; etc.

Deve-se ter apenas o cuidado de observar que muitos desses se adaptaram e se transformaram ao longo dos séculos e milênios, sendo estas comparações apenas uma análise ampla e superficial dos seus nomes e correlações atribuídas. Mas uma coisa que podemos facilmente perceber é que estes deuses inicialmente representavam os elementos da natureza: luz (Sol, fogo); água (rios, chuvas e mares); ar (céu, ventos e tempestades) e a terra (pedras e montanhas). E depois cada um deles passou a representar, também, um aspecto da natureza humana: inteligência, amor, coragem, desejo, medo, etc.

Portanto, cada deus representa um aspecto da natureza humana, projetado num panteão cósmico transcendental. A diferença básica é que, no mito, “eles nos criaram às suas imagens e semelhanças” e na evolução do ego, “nós os criamos às nossas imagens e semelhanças”.

Na medida em que o ego humano foi se desenvolvendo e se fortalecendo, a humanidade foi “retirando” as forças projetadas no mundo espiritual e as eliminando paulatinamente: no primeiro estágio não tínhamos ego e estávamos unidos com tudo o que existia; num segundo momento somos criados pelos deuses e passamos a temê-los e adorá-los para vivermos sob suas proteções; e no terceiro grau do ego eliminamos todos os milhares de deuses e aceitamos um único Deus, mas que também nos criou à sua imagem e semelhança e a quem devemos temer, adorar e obedecer:

“Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Ex 20:1-3”

“Também cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. Ex 29:36”

A partir deste momento todos os poderes dos deuses se concentraram em um único Deus, que na Torah judaica é única e exclusivamente o Deus dos judeus:

“E aconteceu, depois de muitos dias, que morrendo o rei do Egito, os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa de sua servidão. E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se Deus da sua aliança com Abraão, com Isaque, e com Jacó; E viu Deus os filhos de Israel, e atentou Deus para a sua condição. Ex 2:23-25”

Depois que Deus se lembrou da aliança que havia feito com Abraão, começa a nova epopeia judaica:

“E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. … bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. … Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. … E disse o Senhor: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. … Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. … E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração. … E ouvirão a tua voz; e irás, tu com os anciãos de Israel, ao rei do Egito, e dir-lhe-eis: O Senhor Deus dos hebreus nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, para que sacrifiquemos ao Senhor nosso Deus.  Ex 3:1 a 18”

 Uma questão muito importante a ser reforçada aqui é que Iahweh só é Deus do povo judeu: “O Senhor Deus dos hebreus”. Jesus nunca chamou ao seu Pai pelo nome de Iahweh ou Elohim! Aliás, Jesus nunca chamou Deus pelo seu nome próprio e o Cristianismo é a única religião da história onde o seu Deus não tem nome!

 Em Jo 17-6 diz Jesus em sua oração: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste”. Mas na verdade, Jesus nunca chamou Deus pelo Seu nome próprio e isto tem causado algumas discussões entre os cristãos. Ao ensinar a orar, em Mateus 6-9, diz Jesus: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o teu nome”… Qual nome?

Podemos enumerar algumas explicações já encontradas pelos estudiosos: 

  1. A pronúncia do Nome Sagrado de Deus passou por diversas fases na história de Israel. Primeiro se podiam falar e pronunciar normalmente os Nomes de Deus (Elohim, El Elyon, El Shaddai, El Olam, Iahweh), mas com o tempo e com o uso indevido dos nomes Iahweh dá uma ordem a Moisés: “Não pronunciarás no nome de Iahweh, teu Deus, em vão, porque Iahweh não deixará impune aquele que pronunciar o seu nome em vão” Ex 20-7.
  2. Com o isso o Nome foi proibido de ser pronunciado e só podia ser recitado pelos Sacerdotes no Templo e nas sinagogas. Depois, só o Sumo Sacerdote podia dizê-lo. Mais tarde, só uma vez por ano, no dia da festa do Yom Kippur (Dia da Expiação). Por fim, o Nome foi totalmente proibido e ninguém mais podia pronunciá-lo. Quando se lia o texto bíblico, em vez do Nome Divino, se pronunciava “Adonai” que quer dizer “Senhor”. Os últimos livros do AT já nem mais escreviam o nome de Iahweh, mas colocavam El ou Elohim, que quer dizer “Deus”.
  3. Sendo assim, Jesus, assim como todos os outros judeus da época, nunca chamava Deus pelo seu nome próprio.
  4. A partir do ano 66 d.C. Vespasiano e seu filho Tito invadem a Palestina, destruindo cidade após cidade, até invadirem Jerusalém em 70 d.C. e destruírem o Templo, além de matar, vender ou condenar os habitantes da cidade. Ocorre a dispersão (diáspora) dos judeus por ordem de Tito, os quais ficam proibidos de voltar a Jerusalém e de frequentar o Templo, além de falarem e escreverem em hebraico e aramaico. Por isso, todos os evangelhos foram escritos em grego, que era a língua oficial de Roma para os seus domínios orientais. Portanto, o nome de Deus, se tivesse que ser escrito após este período, teria sido adotado em grego a mesma tradição dos judeus, “Adonai” (κυριος em grego) e assim foi feito:

 “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor (κυριος) nosso Deus é o único Senhor (κυριος). Amarás, pois, ao Senhor (κυριον) teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. Mc 12:29-30”

Note-se que por causa desta proibição o próprio nome de Jesus foi alterado, sendo que o seu nome original em hebraico não era Jesus, mas Josué! Como aparece nos textos em grego, ιησους tem o som de “Iésus”, e foi escrito em latim como Iesus; entretanto, como Jesus era judeu, seu nome verdadeiro em hebraico era (ויהושע), e significa originalmente Josué, e não Jesus! Veja em Zc 3,3: “Josué estava vestido de roupas sujas, enquanto estava de pé diante do anjo” – o nome Josué está assim escrito nos originais: ויהושע em hebraico, Ιησους em grego, e Iesua em latim; portanto, o verdadeiro nome de Jesus é Josué!

 Tudo isto significa que os cristãos seguem um “Deus sem nome” e um “Messias com o nome errado”!

Lutero usa, em sua tradução do latim para o alemão apenas o termo “O Senhor” (HERR), sem diferenciar El Shaddai de Yahweh, os Testemunhas de Jeová chamam Deus de “Jeová” e a Bíblia católica de “Javé”. Estas confusões sobre o nome de Deus só podem ser dirimidas estudando a Torah em Hebraico e estudando a evolução histórica do Antigo Testamento. A maioria dos judeus e dos cristãos acreditam que a Bíblia foi escrita cada livro por uma só pessoa e num mesmo período de tempo; mas a verdade de todos estudos mostram que isto não acontecia. Se olharmos com mais atenção o Gênesis e o Êxodo, veremos diversas discrepâncias e contradições.

Por exemplo: no livro do Êxodo, Deus diz a Moisés: “Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó como El Shaddai; mas pelo meu nome, Iahweh, não lhes fui conhecido” (Ex 6-3). Mas em Gênesis, Deus se faz conhecer ao patriarca Abraão como Iahweh: “Abrão creu em Iahweh, e lhe foi tido em conta de justiça. Ele lhe disse: “Eu sou Iahweh, que te fez sair de Ur dos caldeus, para te dar esta terra como herança.” (Gen 15,6-7). Veja que aqui, até Deus diz que Abraão saiu de “Ur dos caldeus”, o que não é verdade…

A única forma de resolver este grande problema é compreendendo como foram compilados historicamente estes textos:

 A Introdução ao Pentateuco da Bíblia de Jerusalém comenta: 

          A composição desta vasta coletânea [Pentateuco] era atribuída a Moisés pelo menos desde o começo de nossa era, e Cristo e os apóstolos conformaram-se a esta opinião. Mas as tradições mais antigas jamais haviam afirmado explicitamente que Moisés tivesse sido o redator de todo o Pentateuco. Quando o próprio Pentateuco diz-o que é muito raro-que “Moisés escreveu”, aplica essa fórmula a alguma passagem particular. Efetivamente, o estudo moderno desses livros apontou diferenças de estilo, repetições e desordens nos relatos, que impedem de ver no Pentateuco uma obra que tenha saído toda ela da mão de um só autor. Depois de longas hesitações, no fim do século XIX uma teoria conseguiria impor-se aos críticos, sobretudo por influência dos trabalhos de Graf e de Wellhausen: o Pentateuco seria a compilação de quatro documentos, diferentes pela idade e pelo ambiente de origem, mas todos eles muito posteriores a Moisés.

         Inicialmente havia duas obras narrativas paralelas: a Javista (J) e a Eloísta (E). A fonte Javista nasceu de tradições orais siro-cananéias, as quais eram repetidas pelos contadores profissionais, sendo guardadas apenas de memória; aceita-se que foi escrita pela primeira vez no séc. IX, em Judá. O termo “Javista” é usado porque desde o relato da Criação, no início do Gênesis, utiliza o nome de Iahweh para designar Deus, enquanto a fonte “Eloista” utiliza-se do nome Elohim. A obra Javista é mais antiga, impessoal, e tem um estilo vivo e colorido; não tem um caráter religioso e até desconhece um sacerdócio organizado. A obra Eloista tem um estilo mais sóbrio e uniforme, onde os relatos das origens começam com Abraão, surgindo um pouco mais tarde que a Javista, em Israel. Finalmente, apareceu a tradição sacerdotal (P), criada pelos sacerdotes do templo de Jerusalém mas que só se constituiu durante o Exílio na Babilônia e se impôs depois do retorno. Por questões de linguagem, forma e conceitos, é relativamente fácil seguir no Gênesis os textos javistas, eloístas e sacerdotais; já nos três livros seguintes (Êxodo, Levítico e Números), indentifica-se com facilidade apenas a versão sacerdotal. Em Deuteronômio as três correntes desaparecem e são substituídas por uma tradição única, a do Deuteronômio (D).

A partir desses diversos blocos da tradição, o crescimento do Pentateuco se processou em várias etapas, cujas datas, porém, é difícil precisar. As tradições javista e eloísta foram combinadas em Judá, pelo fim da época monárquica, talvez no reinado de Ezequias, quando, segundo nos informa Pr 25:1, foram compiladas antigas obras literárias. Antes do fim do Exílio, o Deuteronômio, considerado como uma lei dada por Moisés em Moab, foi inserido entre o fim de Números e os relatos sobre a nomeação de Josué e a morte de Moisés (Dt 31 e 34). É possível que a adição da tradição sacerdotal ou, se se preferir, a intervenção dos primeiros redatores sacerdotais, tenha sido feita pouco depois. Em todo caso, a “Lei de Moisés” trazida da Babilônia por Esdras parece representar todo o Pentateuco já próximo de sua forma final.

A continuação do comentário esclarece:

          Depois da ruína do Reino do Norte, os dois documentos foram reunidos num só (JE); depois de Josias, o Deuteronômio lhe teria sido acrescentado (JED); depois do Exílio, o Código Sacerdotal (P), que continha sobretudo leis com algumas narrações, teria sido somado a esta compilação, a qual serviu de arcabouço e de armadura (JEDP). … A descoberta das literaturas mortas do Oriente Médio e os progressos feitos pela arqueologia e pela história no conhecimento das civilizações vizinhas de Israel mostraram que muitas leis ou instituições do Pentateuco tinham paralelos extra bíblicos bem anteriores às datas atribuídas aos “documentos”  e que numerosos relatos supõem um ambiente diferente e mais antigo daquele em que estes documentos teriam sido redigidos. Vários elementos tradicionais eram conservados nos santuários ou eram transmitidos pelos narradores populares. Foram agrupados em ciclos e depois postos por escrito sob a pressão de um ambiente ou pela mão de uma personalidade dominante. Mas essas redações não constituíram um termo em si mesmas: elas foram revisadas, receberam complementos, foram enfim combinadas entre si para formar o Pentateuco que nós possuímos.

Finalmente podemos entender porque o Deus dos judeus tem diversos nomes, porque Ele às vezes fala no plural, porque Jesus nunca chama seu Pai pelo seu nome próprio e porque o nome de Jesus é Josué!

Além disso, o que quase ninguém percebe é o que o nome do seu Deus ou dos seus profetas ou Messias tem origem no próprio idioma de onde nasce aquela crença: para os índios brasileiros, Deus é Tupã, Iamandu; para os aborígenes australianos, é Baiame; para os sumerianos é Nammu ou Marduk; para os egípcios, é Nun; para os gregos é Zeus; para os romanos é Júpiter; para os indianos é Brahma ou Vishnu; para os muçulmanos é Allah; e assim por diante. Como escreverei a seguir, cada ser humano “imagina” Deus como sua extrema expressão pessoal e ainda O nomeia dentro do seu próprio idioma e cultura. Como poderia ser diferente? Afinal, o nome “verdadeiro” de Deus deve ser aquele que se fala na “língua de Deus”; que língua Deus fala? A do Espírito Santo? Como que é o nome de Deus na língua do Espírito Santo? Em que idioma Deus falava com Adão e Eva no Jardim do Éden ou com Satanás no Livro de Jó? O que Deus falou quando proferiu suas primeiras palavras: “Faça-se a Luz” em Gen 1,3?:

E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

ג ויאמר אלהים יהי אור ויהי אור 

Και ειπεν ο Θεος, Γενηθητω φως· και εγεινε φως·

Dixitque Deus: “Fiat lux”. Et facta est lux. 

A ka ki te Atua, Kia marama: na ka marama.

Und Gott sprach: Es werde Licht! Und es ward Licht.

وقال الله ليكن نور فكان نور. 

하나님이 가라사대 빛이 있으라 ! 하시매 빛이 있었고 

Ou, ainda, Ele realmente falou alguma coisa quando seu Espírito se movia sobre a face das águas?

A humanidade possui três grandes religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Todas as outras religiões menores advieram destas três e todas as três tiveram origem em Abraão, o sumeriano de Ur.

Não estou tratando aqui do questionamento se existe ou não um único Deus ou milhares de deuses, mas do conceito que temos a respeito destas divindades. Assim, em termos da psicologia do ego, o conceito fundamental de Deus para cada pessoa representa uma ampliação de sua própria autoprojeção; ou seja, a concepção de Deus é o próprio indivíduo ampliado ao seu limite máximo imaginado. Esta ideia não é uma apostasia, já que as próprias religiões creem nesta máxima: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” Gn 1,26. Podemos encontrar a nossa própria imagem e semelhança num espelho, numa foto, numa escultura ou numa pintura, por exemplo; embora elas tenham a nossa imagem, são apenas semelhantes a nós, já que não somos a nossa imagem, mas a nossa própria existência.

A projeção mental que forma um conceito particular de Deus depende da energia potencial e da natureza predominante de cada pessoa. É exatamente como a potência das lâmpadas cinematográficas que projetam um filme sobre a tela em branco: cada ser humano olha para o infinito do céu como uma tela imensa e projeta sua característica pessoal em busca de Deus, tornando-O tão grande quanto for sua capacidade de projetar sua ideação. Além do “tamanho” de Deus, a pessoa também projeta suas particularidades na divindade: uma pessoa emocional dirá que “Deus é Amor”, uma racional dirá que “Deus é Sábio”, uma sensorial dirá que “Deus é Grande” e uma intuitiva dirá que “Deus é Misterioso”. Já em relação aos temperamentos das pessoas, as respostas seriam: “Deus é Fiel” (fleumático); “Deus é Tremendo” (colérico); “Deus é Salvador” (melancólico) e “Deus é Pai” (sanguíneo), etc. Todas as divindades num só Deus, todas as nossas potencialidades reunidas ou divididas conforme os nossos próprios conceitos e percepções…

Dois grandes problemas universais do pensamento humano é que 1. Cada pessoa usa o próprio conhecimento que possui para analisar e julgar todas as coisas; e 2. Que todas as pessoas acreditam que estão certas e que os que pensam diferentes estão errados. Mas, se todas pensam que pensam iguais estão certas e todas que pensam diferentes estão erradas, quem está certo e quem está errado? Por que o diferente de nós é sempre o errado? A maioria das pessoas não percebe que o sentimento e a convicção de que está certa vem apenas do raciocínio que usa dentro do seu próprio conhecimento. Por isso nenhuma convicção é garantia da verdade, como todos gostariam que fosse.

Num quarto momento da evolução do ego o homem “matou a Deus”, ou seja, não precisava mais ter sido criado por Deus à sua imagem e semelhança! A partir daqui o homem se tornou obra do acaso, como tudo o mais no Universo, com suas leis casuais irrevogáveis. É a supremacia do ego, que se coloca acima de todos os deuses e do Deus único e que tudo vê toda concepção religiosa como uma simples criação da mente humana para explicar o universo e para nos dar algum grau de imortalidade.

Cientistas ateus estão fazendo uma campanha mundial para acabar com o conceito de Deus e das religiões, alguns inclusive se autointitulado como “Anticristos”, tais como Sam Harris, Richard Dawkins, Daniel Dennet, Michel Onfray e Christopher Hitchens.

Como estes cientistas ateus, e imitando a ideia de Nietzsche, o ego da “quarta geração” deseja que o velho homem (que ainda é crente, submisso e preso aos valores e às hierarquias tradicionais) deve necessariamente dar lugar ao super-homem, um novo “animal político” destituído da moral comum que foi o produto de séculos da ética cristã derivada das ideias do bem e do mal. Implacável em seus objetivos, distante e altaneiro em relação aos que considera inferiores, para Nietzsche o super homem seria o “novo legislador”: totalmente hostil à democracia, cujas leis em sua arrogância de ser superior ele rejeitava. O super-homem somente aceitava as regras feitas por ele mesmo, estando muito acima da moral vulgar das multidões que o cercavam. A morada deste moderno titã é o “cume elevado das montanhas”, onde o ar é rarefeito e reservados aos poucos. As demais pessoas, a gente comum, servir-lhe-iam apenas como degraus para sua ascensão a patamares cada vez mais elevados de aperfeiçoamento e gozo estético. Nietzsche, além de desprezar a democracia, abominava o liberalismo, o socialismo, o feminismo e o cristianismo, vistos como manifestações de debilidade, como expressão de uma vontade majoritária de carneiros, de fracos e de covardes, dos inferiores enfim.

Interessante esta comparação do Super homem de Nietzsche com Deus ou os deuses das montanhas sagradas: por fim, o homem “se” fez Deus! Em uma outra teoria minha, digo que este super homem destruiu até os nossos antigos super-heróis, tornando-os fracos, neuróticos, sofredores profundos pelas suas duplas personalidades. Depois que o ego matou os espíritos, os deuses e o Deus único, só faltava matar também os seus antigos heróis; e ele fez isto colocando nas histórias e nos filmes atuais heróis tão neuróticos que até Woody Allen sentiria pena e desprezo por eles… Rs

É interessante observar que são ateus apenas os “pequenos cientistas”, aqueles chamados de “solucionadores de problemas” por Thomas Kuhn em “A Estrutura das Revoluções Científicas”. Todos os grandes cientistas acreditavam em Deus: atualmente, pelo pensamento ateísta da ciência, quando se discute a mecânica de Newton nunca é mencionado o papel que ele atribuía a Deus ou o seu interesse profundo em astrologia e alquimia, tão integrado em sua filosofia. Da mesma forma, não se lê que o dualismo de Descartes entre corpo e alma implicava a existência de Deus. Não é também mencionado nos livros didáticos que grande número dos fundadores da física moderna, como Albert Einstein, Bohm, Heisenberg, Schroedinger, Bohr e Oppenheimer, não somente achavam seus trabalhos plenamente compatíveis com a visão mística do mundo, como também, de certo modo, penetravam neste domínio através de suas atividades científicas.

Einstein, o maior cientista da história, escreveu:

“Minha religião consiste em humilde admiração do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber com os nossos espíritos frágeis e duvidosos. Essa convicção profundamente emocional na presença de um poder de raciocínio superior, que se revela no incompreensível universo, é a ideia que faço de Deus”.

“Eu não posso acreditar que Deus tenha escolhido jogar dados com o Universo”.

“Não posso imaginar um Deus que recompensa e castiga os objetos de sua criação, cujos propósitos estão modelados com base em nossos próprios – em resumo: um Deus que não é senão um reflexo da fragilidade humana”.

“Acredito no Deus de Espinosa, revelado na harmonia de tudo o que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens”.

“Foi, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Eu não acredito em um Deus pessoal e nunca neguei isso, ao contrário, expressei claramente. Se existe algo em mim que pode ser chamado de religioso, esse algo é a minha admiração ilimitada pela estrutura do mundo até onde a ciência pôde nos revelar neste momento”.

Assim, para Einstein, o Deus que ele acreditava não era nenhum dos deuses citados em todo este texto, os deuses de cada cultura, cujo nome estava no seu próprio idioma e que apenas protegia o seu povo. Ele acreditava no Deus impessoal, que estava além do tempo e do espaço (criados após o Big Bang), um Deus que criou o universo com as suas leis inexoráveis, mas que não interfere na vida humana, enfim um Deus cósmico, maior e transcendente a todos os possíveis multiversos do cosmos infinito.

O que podemos perceber, depois de todos estes padrões culturais evolutivos descritos, o que acontece é uma “releitura” constante da eterna dualidade Bem x Mal e Luz x Trevas… E com o advento da Física Quântica e da Astronomia surgem no mundo novos grupos de esotéricos que se utilizam da terminologia quântica e da Ufologia para embasar as suas crenças contemporâneas… Aparecem as “canalizações”, que são mensagens escritas por mestres iluminados, alienígenas incorpóreos e seres de outras dimensões, descrevendo como a nova dualidade cósmica se apresenta. Por um lado, vemos informações sobre os “gray”, ou extraterrestres amorais que abduzem pessoas e fazem experiências genéticas com os seres humanos, inserindo-lhes chips localizadores sob torturas mentais e emocionais terríveis. Por outro lado, vemos as confedereções galácticas de alienígenas da luz lutando contra os do mal:

“Há milhões e milhões de anos atrás na Via Láctea, as grandes forças retrógradas e malevolentes, principalmente alfa draconianos e reptilianos, e forças da luz estavam em combate devido à rebelião de forças negativas, causando muitos e muitos problemas em nossas galáxias. Esses seres sombrios se espalharam de tal forma pela galáxia que conquistaram com sucesso, milhares de sistemas estelares. Então, para evitar que estas forças retrógradas interdimensionais dominassem e explorassem a Via Láctea, foi criada uma espécie de Confederação Galáctica cerca de 4,5 milhões de anos atrás. 

Os seres de luz, começaram a formar uma aliança e se tornavam cada vez mais e mais organizados e desenvolveram esta Confederação de forma altamente diversificada e em várias dimensões e atuam como vigilantes, coordenando as defesas da galáxia e fazendo também fóruns de trocas culturais e governamentais entre as diversas civilizações. É uma Confederação dos sistemas estelares de nossa galáxia com o propósito de permitir e facilitar que a Luz continue a fluir nesta parte do Universo.”

Vemos também inúmeros Mestres Ascencionados, Jesus e Maria, os Arcanjos Gabriel e Miguel trazendo mensagens para o homem que entrará no “Portal da Quinta Dimensão” e terá “suas 12 fitas de DNA ativadas que se conectarão com os 12 chakras para receber a teia de energia vinda de fora de nossos corpos”. As pessoas que estiverem sintonizadas com a Luz Intergaláctica irão dar um salto quântico para a quinta dimensão, o que quer que isto signifique! Abdução, arrebatamento, transmutação… sempre as mesmas releituras culturais do mesmo drama humano: de que lado você está? Você é bom? Você será salvo? Irá para a “outra dimensão” (paraíso, nirvana, quinta dimensão)?

Para muitos ufólogos a espécie humana é uma mutação genética criada pelos alienígenas para trabalhar para eles em mineração e produção de alimentos, onde os antigos deuses da Mesopotâmia eram nada mais que estes visitantes interplanetários. Neste universo ufológico todos os deuses são alienígenas, assim como Jesus e Maria e a “subida aos céus” de Enoch e Elias são descrições de abdução extraterrestres. O número de informações deste nível na internet e na literatura é estonteante, com centenas de gurus da Nova Era canalizando e explicando o destino da humanidade.

Quero deixar claro neste ponto que não estou dizendo que tudo isto é apenas um delírio coletivo, mas sim uma releitura atual dos mesmos temas que a milênios angustiam o ser humano.

Depois de termos caminhado na evolução do pensamento religioso humano, voltamos ao ponto em que encontramos a razão para as crenças dos egos da “terceira geração” em um apocalipse final!

Como vimos anteriormente, desde o inicio da humanidade o homem se viu envolto entre a luz e as trevas e rapidamente criamos uma explicação para esta dualidade, colocando na Luz tudo o que é bom, belo e divino e nas Trevas tudo o que é mal, feio e demoníaco. E, por uma questão básica e fundamental do ego, todos aqueles que creem nesta dualidade, creem que estão do lado da Luz, do Bem e da Imortalidade!

E é interessante também observar que os textos apocalípticos normalmente são criados em momentos onde o “povo do bem” está sofrendo opressão do “povo do mal” e que Deus virá fazer uma guerra cósmica contra os maus e no final da batalha o joio será separado do trigo:

“Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.  Mateus 13:30”

“Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mateus 13:36-40”

O maior problema social que encontramos nesta separação do joio e do trigo é que cada crença, cada povo e cada religião se vê como a única escolhida e o seu Deus como o único verdadeiro. Judeus, católicos, muçulmanos, protestantes e evangélicos se veem como os únicos merecedores da salvação, embora todos tenham vindo do mesmo tronco de Abraão e usem os mesmos livros sagrados…

São os grandes momentos de sofrimento coletivo que criam as ideias dos apocalipses ou de julgamento do povo opressor e da libertação do povo oprimido.

Para os judeus estes períodos foram a escravidão no Egito e a presença de Moisés, cuja localização histórica destes acontecimentos é geralmente admitida quer sob Seti I (1306 a 1290 a.C.), que foi um grande construtor, quer sob Ramsés II (1290 a 1224 a.C.), pela construção de Abu-Simbel. Após a libertação do povo judeu do jugo egípcio, outro momento de grande opressão histórica acontece em 721 a.C., quando o reino de Israel foi conquistado pelos assírios e 200 anos depois o reino de Judá foi conquistado pelos Babilônios, conhecido como o Cativeiro da Babilônia (que durou até 539 a.C). Neste período histórico onde aconteceu a primeira destruição de Jerusalém e do seu Templo por Nabucodonosor, surgem os profetas Jeremias, Ezequiel e Daniel. Com o retorno do cativeiro para a Palestina os judeus reconstruíram o Templo de Jerusalém, mas em 332 a.C. com o império de Alexandre o Grande eles passaram a ser dominados pelos macedônios, pelos gregos e posteriormente pelos romanos, a partir de 63 a.C., período onde acontece a história de Jesus.

Na época de Jesus, sob o domínio romano, voltamos a ter o ressurgimento da ideia do Apocalipse, a partir de João Batista, Jesus e os apóstolos, João em particular. Naquela época, como em todas as outras da nossa história, o Apocalipse viria para julgar os homens e separá-los como “bons” e “maus”. Mas o que ninguém percebeu, nem naquela época nem 2.012 anos depois, é que o julgamento seria eminente, imediato, ainda mesmo na presença carnal de Jesus:

Para João Batista, o Reino de Deus já havia chegado na Terra: “E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.  Mateus 3:1-2”

“E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Mateus 10:7”

“Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus. Marcos 14:25”

“Em verdade vos digo que alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o filho do homem vindo em seu Reino.” (Mt 16,28) “E disse ainda: “Em verdade vos digo que estão aqui presentes alguns que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus chegando com poder.” (Mc 9,1) “Eu vos digo, verdadeiramente, que alguns dos presentes não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus.” (Lc 9,27)

“Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. 1 João 2:18”

“Quanto à Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e à nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, que não percais tão depressa a serenidade de espírito, e não vos perturbeis nem por palavra profética, nem por carta que se diga vir de nós, como se o Dia do Senhor já estivesse próximo.” (2Ts 2,1-2)

“Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.” (Tg 5,7-11)

Eu escrevi amplamente sobre estes assuntos em meu livro “A Grande Revelação do Ano 2.000”, quando expliquei porque o Apocalipse não iria acontecer no ano 2.000 (e porque ele nunca acontecerá!). Basicamente, a razão para este mal entendido foi que os próprios apóstolos não entenderam a mensagem de Jesus, já que pensavam como os antigos judeus.

Todos os apóstolos morreram esperando ver a volta do Cristo, assim como todos os cristãos primitivos e todos os cristãos do ano 1.000 d.C. e do ano 2.000 d.C. Milhares, milhões ou até bilhões de cristãos viram os Sinais da Vinda, mas nada aconteceu até hoje. Um grande erro de tradução e de interpretação diz respeito às expressões “Fim do Mundo” e “Fim dos tempos”!

 

1. O termo “fim do mundo” (συντελεια του αιωνος) aparece apenas em Mateus 13:49, e em mais nenhum outro lugar de toda a Bíblia católica e na Bíblia de Jerusalém: “Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos.” A Bíblia de Almeida traz a seguinte tradução: “Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos”

 

2. O problema aqui é linguístico, ou talvez de pura má fé dos tradutores, já que o termo grego αιων significa “uma unidade de tempo como um estágio particular ou período da história – ‘era’, ‘época’, ‘período’; tempo, duração da vida, vida; eternidade; idade, geração, século. Em nenhum momento este termo significa “mundo”, que tem um sentido totalmente diferente para o português. Em nossa língua, mundo significa o planeta Terra, em grego, αιων significa uma determinada época, pura e simplesmente! O planeta Terra, como nós o entendemos em português, traduz-se por γη (gí) em grego. Já o mundo enquanto universo pode ser traduzido como ολον (hólon) ou κοσμος (cosmos).

Observe que nem Marcos nem Lucas citam o mundo nesta passagem do Espírito Santo. Por que, então só Mateus falou no “fim do mundo”? É porque ele não falou no “fim do mundo”; ele falou, isto sim, no “fim daquele ‘tempo’ ou ‘geração’”!

E este pensamento concorda com o pensamento maia dos seus calendários.

Portanto, NÃO HAVERÁ FINAL DO MUNDO! A única coisa que acontecerá é o fim de uma era, o chamado “fim dos tempos”, como tantos outros que já passaram…

Há quem já esteja remarcando o Fim do Mundo pelo Calendário Maia para o ano de 2.043 d.C. e haverão aqueles que passarão suas vidas esperando tal dia, assim como os futuros cristãos dos anos 3.000 e 4.000 d.C. Talvez um dia isto acabe, quando cada homem compreender que esta postura de ficar esperando que Deus resolva os nossos problemas, nos livre dos maus e nos leve para a imortalidade, seja uma imaturidade do ego e que cada um de nós tem, aqui e agora, que implementar o Reino de Deus “dentro de si” e “fora de si”, como dizia Jesus:

“Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: “A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’, pois eis que o Reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17,20-21)

“E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.  Marcos 12:34”

A humanidade está chegando ao momento de desenvolver a “quinta geração” de ego, que não será mais aquele ego frágil do homem primitivo que se assombrava com todos os mistérios, nem o ego infantil do pensamento mágico que procurava controlar as forças da natureza através do mundo espiritual, nem o ego púbere e religioso que se curvava e obedecia aos deuses ou ao “seu” Deus único para fugir do Mal, nem o ego adolescente ateu, onipotente, egoísta e vaidoso.

Vem surgindo no mundo um ego adulto e jovem que é totalmente responsável pela sua própria realidade, que compreende a inter-relação bio-psico-socio-ambiental e espiritual em que vive e que procura existir em harmonia com tudo e com todos à sua volta.

Um ego que sabe que todo conhecimento humano é fruto de uma cultura e de um ponto-de-vista e que passa a respeitar a percepção de mundo do seu semelhante, desde que esta visão não cause dor ou sofrimento a quem quer que seja.

Um ego que sabe que o diferente é apenas diferente e que se conseguirmos unir todos os pontos-de-vista possíveis e imagináveis estaremos mais perto da Realidade, que é a própria complexidade e que ainda transcenderá os milhares de anos vindouros da nossa espécie.

Um ego que compreende que, se existe um Deus, Ele está além do tempo e do espaço, além de todas as limitações impostas pela matéria, além da observação inclusive da Ciência por ser anterior ao momento singular. Um Deus que apenas se infere por intuição de que “não há efeito sem causa”, mas que por ser anterior a tudo, é transcendental, incompreensível e inabordável, apenas “revelado na harmonia de tudo o que existe”, como dizia Einstein. Enfim, um Deus dos multiversos e não apenas um Deus que existe para atender as necessidades e as vaidades do ser humano, “um Deus que não é senão um reflexo da fragilidade humana”…

 Poesias para os opostos complementares:

 

Ao A-Teu

 

Tu vieste do Nada

E com pureza singela

E ausente de ego,

Emergiste das trevas

Da ignorância do teu eu…

 

Tu cresceste lentamente

E no desdobrar dos milênios

Tornou-se consciente

E assombrado com tanta luz…

 

Tu eras pequeno e assustado

E vivia cercado por mitos

Criados pela tua própria imaginação…

 

Aos poucos, teu ego fortalecido

Resolveu destruir os deuses

E o Olimpo e Valhalla,

O monte Meru e o Uluru,

Tornaram-se apenas picos vazios

Destituídos de sua glória ancestral…

 

Evoluíste um pouco mais

E decidiste que “Deus está morto”,

Crendo que o Universo joga dados

E flui no acaso de forças inconscientes…

 

Tu, A-teu, te tornaste

Arrogante e vazio,

Mas cheio de tua própria vaidade

Te autoproclamaste “Senhor de Si Mesmo”…

 

Ao manipular e romper o átomo

Te tornaste um Super Homem

Que destrói a Terra e a Natureza,

A Vida e a Ti mesmo…

 

São frutos da tua obra

O aquecimento global e os transgênicos,

A bomba atômica e o napalm,

Os agrotóxicos e a clonagem…

 

Como num Apocalipse,

Tua poluição contamina rios e mares

Gera o câncer e a dor,

E fulmina a humanidade

Numa ganância sem limites…

 

Para o Deus que negaste,

Viraste A-Teu;

Para o Jesus que perseguiste,

Intitulaste-te Anticristo;

E para a humanidade que esqueceste,

Tornaste-te um dizimador insaciável…

 

“Abaixo do Sol, tudo é vaidade”,

Mas com tua cerviz erguida

Não vês que estás prestes a cair

Na tua própria mortalidade…

 

 

Ao Teó-logo

 

Tu vieste do Nada

E com pureza singela

E ausente de ego,

Emergiste das trevas

Da ignorância do teu eu…

 

Tu cresceste lentamente

E no desdobrar dos milênios

Tornou-se consciente

E assombrado com tanta luz…

 

Tu eras pequeno e assustado

E vivia cercado por mitos

Criados pela tua própria imaginação…

 

Curvava-te diante do Sol

E tremia em frente ao trovão,

Agradecia a chuva benfazeja

E chorava ao nascer do rebento…

 

Deste nome a todas as coisas,

Para cada uma nasceram divindades

E te tornaste representante

Dos deuses na Terra…

 

Para apascentar a ira dos deuses

Muitos sacrifícios realizaste

Entre muitos ritos e dogmas,

Mulheres e crianças mataste…

 

E com a união do panteão divino

Em um único Deus criador,

Continuou a matar e a guerrear

Homens e animais a vida a ceifar…

 

Guerras Santas e orgias dionisíacas,

Inquisição e caça as bruxas,

Quanta sede tinha o seu Deus

Pelo sangue dos infiéis derramado…

 

Tornaste-te grande,

Tão grande quanto é teu Deus

E do alto do seu trono

Com imenso poder regeu…

 

“Abaixo do Sol, tudo é vaidade”,

Mas com tua cerviz erguida

Não vês que estás prestes a cair

Na tua própria iniquidade…

 

3 comentários

    • Dario Pendragon Weisheimer em 28 de dezembro de 2012 às 15:22
    • Responder

    Mais uma vez me locupleto de tão ávido pesquisador e suas compilações e percepções. Muito embora o fenômeno do fim dos tempos não me seja de tão grande interesse, os dados históricos e mitológicos que expõe me assombram ao imaginar a dimensão das pesquisas tuas.
    Se permite, deixo uma pequena contribuição: A cosmogênese Guarani ordena a origem da divindade por si próprio dizendo “Ñanderú oguerô djerá” (não sei bem como se escreve), “O Pai de todos desdobrou-se de si próprio na noite eterna”, e antes da origem do Sol e da Lua existem criações como o Mainô, o colibri (o primeiro animal, ainda que os pássaros não sejam bem como animais pra eles) e o Pindó, a palmeira (simbolizando “os emplumados” esta também não é bem uma árvore).
    Um abraço e saudades de papos tão vivos, amigo!

    • MARIO PANSINI em 28 de dezembro de 2012 às 23:31
    • Responder

    Como você me disse, o texto é realmente longo, mas no entanto, ele se faz necessário ao entendimento. Com certeza gerará controversias, o que não será nenhuma novidade. Gostei muito do texto e concordo com você. Me intriga porém a questão evolutiva da própria matéria como descrita na escala estequiogenética (Grande Síntese). Assim sendo, a evolução é inexorável e infinita. Visto fora do espaço-tempo (que está sob o domínio da mente), o apocalípse realmente não pode existir e, a evolução nos levará a outras dimensões da Consciência. Talvez coubesse designar este fenômeno como uma transferência para outros mundos, onde a evolução segue seu curso, ou seja, é a mudança de dimensão. Um abraço.

    • João em 9 de janeiro de 2013 às 14:32
    • Responder

    Como era de se esperar em um artigo escrito pelo Dr. Paulo Maciel, fica neste também sua marca de complexidade estratosférica. O texto descreve muito além do título “A Humanidade e os Apocalipses” e divaga com pinceladas em alto teor de pós-doutorado em história religiosa global, desde os tempos dos humanóides pré-históricos até os dias atuais. Um sem-fim de nomes estrangeiros esdrúxulos impronunciáveis deixa nós, os comuns, zonzos e incapazes de um pensamento linear claro.

    Eu não creio em nenhuma destas linhas de pensamentos fatalistas de fim de mundo, portanto leio o texto como instrumento esclarecedor sobre outras linhas de raciocínio, diferentes da minha. Entretanto, sou apenas um curioso. Nunca estudei os temas expostos e então não disponho de nenhuma capacidade de análise séria. Só o que posso opinar é sobre pontos que geram em mim sentimentos adversos ou inclinados.

    Por exemplo, reconheço a dificuldade e entendo como impossibilidade em alguns casos a análise exata do passado. Penso que mesmo as nossas próprias decisões, e restrinjo àquelas que tomamos nesta presente existência corpórea, quando tomadas vinte, trinta, quarenta anos atrás, tinham razões que nosso pensamento atual refuta ou desconhece. Daí, em meu parco ver, ocorre análises super complexas sobre decisões que podem ter sido simplesmente idiotas, sem nenhum motivo abracadabra.

    O texto está escrito, como já disse acima, em um formato ortográfico tipo pós-doutorado, tese religiosa, ou algo parecido. Mas tem sacadas ímpares, sui generis, perfeitamente compreensíveis ao indivíduo laical.

    Penso que a humanidade vive um crê-não-crê nestas coisas de fim-de-mundo. Ora, considero-me cristão e não esperei o fim do mundo em nenhum momento desta minha existência. Olhando ao redor não vi milhões de pessoas em histeria desenfreada aguardando a morte próxima. Porém desconheço qual seria a reação de alguém que sabe com absoluta certeza que irá morrer, mas está vivendo em liberdade. Seria diferente de estar em frente a um pelotão de fuzilamento ou com o pescoço sob a guilhotina?

    No artigo Dr. Paulo desenvolve sua imaginação sobre estes porquês dos sentimentos coletivos. Aliás, esta é a razão do texto, claro! Muito bem escrito e desenvolvido, o tema é deveras intrigante.

    Este foi meu pensamento e aproveito carona no próprio Dr. Paulo “Dois grandes problemas universais do pensamento humano é que 1. Cada pessoa usa o próprio conhecimento que possui para analisar e julgar todas as coisas.” Pulei o item dois pois não acredito que estou certo e os outros errados!
    Ah, amei a poesia _Ao A-Teu_!

    Parabéns e Desejos de Muito Sucesso!!!

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